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Sou uma terapeuta ericksoniana; trabalho com Psicoterapia Breve, utilizando, sob medida para cada pessoa, técnicas de Hipnose e Arteterapia. Sou também doula: acompanho gestantes durante o pré-natal, parto e pós-parto. Qualquer dúvida e interesse, entre em contato! Terei o maior prazer em poder ajudar. :)

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Reflexões sobre o sexismo na linguagem

O Conselho Regional de Psicologia da 3ª região (CRP03) iniciou uma discussão sobre a visibilidade do gênero gramatical feminino equilibrada com a visibilidade do gênero gramatical masculino na linguagem utilizada nos seus documentos. Considerando a importância da utilização de uma linguagem explicitamente inclusiva do feminino e do masculino, o CRP03 optou por uma forma que represente as mulheres e que enfrente o sexismo linguístico.

O sexismo na linguagem ainda hoje é muito utilizado, o que denota uma linguagem que discrimina as mulheres, ao adotar o gênero masculino como fórmula única para referir-se a homens e mulheres de forma genérica. Iáris Ramalho Cortês destaca: “Na ortografia, deixamos de ser, em todo o texto, uma ‘sombra’ do homem, ou seja, quando se falava a palavra ‘homem’, tínhamos que nos sentir incluídas na masculinidade que esta palavra encerra. O ‘homem’ estava colocado como o representante da humanidade brasileira e com isto a ‘mulher’ não necessitava ser citada diretamente de vez que possuía um representante legal, pré-estabelecido pela escrita.”

O patriarcalismo contribuiu muito para o ocultamente das mulheres, ao passo que colocou o homem como centro, como parâmetro. Nesse “modelo”, as mulheres foram colocadas à margem, e, no percurso, adotou-se uma linguagem sexista para inviabilizar as mulheres, tendo essas que se sentir incluídas no masculino. Para Isaura Isabel Conte, a linguagem masculinizada é colocada como neutra, cria uma estrutura que limita e condiciona o pensamento, e “acaba mutilando a humanidade já que uma parte substancial dela não é nomeada”. As palavras que parecem ser tão usuais no cotidiano das pessoas muitas vezes não são percebidas como carregadas de machismo e preconceito em relação às mulheres. Porém, como as relações sociais ainda são desiguais, cristalizaram-se algumas “normalidades”. Portanto, a linguagem sexista acaba externalizando comportamentos e práticas que reforçam a discriminação das mulheres.

A utilização equilibrada de formas de tratamento para as pessoas pode ser realizada de diversas formas. Como aponta Eulália Lledó, “esta questão não é um problema da língua e não é verdade que o masculino inclua o feminino: é uma convenção na qual somos treinados”. Para ela, trata-se de uma questão ideológica: “A língua não é sexista nem racista, mas uma radiografia do que se pensa”. Nessa linha, o Núcleo de Estudos da Mulher e das Relações Sociais de Gênero (NEMGE) produziu o Guia Prático sobre Ensino e Educação com Igualdade de Gênero, com o objetivo de colaborar para o desenvolvimento de um trabalho pedagógico crítico e sem preconceitos, evitando o sexismo na linguagem e visando garantir, para meninos e meninas, os mesmos direitos e acesso a oportunidades. Além disso, a UNESCO lançou, em 1996, a publicação: “Redação sem discriminação: linguagem não sexista da UNESCO com exemplos em Português, Inglês e Espanhol”. Assim, o CRP03 utiliza a terminologia “as/os” nos seus documentos na perspectiva da igualdade de gênero, questão fundamental inserida na temática dos Direitos Humanos, com o objetivo de dar visibilidade ao papel do gênero feminino como sujeito político, salientando que tal prática constitui uma das formas contemporâneas de enfrentar a discriminação contra as mulheres.

Ludmila Cerqueira Correia

Advogada, Mestra em Direitos Humanos pela UFPB

Professora da Faculdade de Direito da UEFS

Ex-Assessora Jurídica do CRP03

Fonte: Jornal CRP03 BA/SE Ano 2. Edição 002. Ago-Dez 10

2 comentários:

  1. É sempre muito difícil mudar algo que já está sacramentado, aquilo que é tido como verdade.

    A gente sabe como sofreram as primeiras mulheres feministas, e quantos morreram na fogueira por defender práticas pagãs contrárias à igreja. Andar 'na contramão' -ainda que contramão não seja o errado, mas apenas o oposto ao já estabelecido- é muito difíl, exige muita luta e muita garra.

    Mas é assim mesmo, essa luta não se vence em um dia, mas em minúsculas e diárias vitórias. Pensemos em como o ser humano já evoluiu em todo esse tempo, conquista de direitos pelas mulheres, de respeito pelos homossexuais, inclusão dos negros, reintegração na sociedade de pacientes portadores do vírus HIV, transtornos mentais, hanseníase ou deficiências variadas.

    Tudo custou MUITA luta. Mas conseguimos mudar, a passos lentos. Assim que deve ser.

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  2. Você recebeu um selo "Prêmio dardos", passe lá no blog pra buscá-lo:

    http://mente-hiperativa.blogspot.com/2010/09/premio-dardos.html

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