Era “o dia dos namorados”. Era um
dia. Mais um em que Alícia esperava aquele som que não vinha. Nunca tinha
ouvido “eu te amo” da boca de um rapaz. Nem mesmo de uma moça que não fosse
amiga. Não que ela quisesse ouvir isso de uma moça, mas que ela queria ouvir,
queria! Foi para o parque chateada, pensando quanto tempo já estava saindo com
Alesandro e ele não lhe dizia nada. Nada além da hora que iria buscá-la...
Estava sem esperanças no mundo, pois este era feito de pessoas que não falavam
o que ela esperava ouvir. Alícia caminhava e chorava... Foi quando uma flor,
roxinha como a cor que fica quando estamos sarando de um machucado, surgiu
diante de seus olhos molhados. Enxergou profundo. Enxugou suas lágrimas e
desobstruiu as passagens: Alícia pôde sentir o aroma doce da singela e miúda roxinha
cheia de pétalas. Era sensivelmente suave e se espalhava no ar da praça,
enquanto ela inspirava... Alícia chegou mais perto para ver melhor e tocou a
flor, que se deixou ser tocada. Parecia feliz com os carinhos, pois continuava
partilhando seu perfume, e isso a animava. Suas cores eram tão sinceras quanto suas folhas
recém-caídas. Ela só sabia ser ela mesma, tão bonitinha. Alícia permitiu-se a
companhia dela o resto daquele dia. E junto com a noite caiu a ficha: descobriu-se
amada pela flor. E isso era certo, tão certo quanto a raiz da planta firmada na
terra. Alícia nunca fez nada por ela. A flor simplesmente estava ali, entregue,
de corpo, cor e essência, doando a si mesma, sem nada esperar... E o único som
audível era o vento fazendo a planta balançar...
Camila Sousa de Almeida