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Aracaju, Sergipe, Brazil
Sou uma terapeuta ericksoniana; trabalho com Psicoterapia Breve, utilizando, sob medida para cada pessoa, técnicas de Hipnose e Arteterapia. Sou também doula: acompanho gestantes durante o pré-natal, parto e pós-parto. Qualquer dúvida e interesse, entre em contato! Terei o maior prazer em poder ajudar. :)
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quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Sobre vivência

Eu atendo vítimas de violência sexual. E, diferente do que você pode imaginar (e eu mesma imaginei), não é tão pesado fazer isso. Pesadas são as histórias, sim, e a dor das pessoas. Mas no contato com elas o que mais me salta aos olhos é a beleza imensurável do ser humano... sua impressionante capacidade de resiliência; de sorrir de verdade após um choro profundo; de pensar nos outros e se sacrificar, aguentando mais um pouco (ou muito) para que outra pessoa possa ter o seu amor...

Vejo pessoas que não desistem de si mesmas, crianças que conservam sua pureza e continuam sabendo brincar. Quantos de nós ainda sabemos?

Vejo olhos tristes que sabem ainda ser gentis e olhar para o outro, e não só para si. Bondades que não deixam de ser o que são por causa da maldade alheia. Eu vejo tudo isso e me sinto privilegiada de assistir e até ajudar isso a existir. Ajudar as pessoas a descobrir...

Nenhum ser humano conhece o tamanho de sua força antes de precisar usá-la além dos limites. Eu admiro muito essas pessoas. E grata sou pela oportunidade de ser alguém que olha para elas e oferece um pedaço de um mundo melhor.

A vocês, desejo o melhor de vocês. A mim, que eu nunca deixe de enxergar assim. Ao mundo, que aprenda o que vocês têm a ensinar.


Camila Sousa de Almeida


quarta-feira, 9 de julho de 2014

O segredo da felicidade

Há uma fábula maravilhosa sobre uma menina órfã que não tinha nem família nem ninguém para amá-la.

Certo dia, sentindo-se excepcionalmente triste e sozinha, ela foi passear por um prado e viu uma pequena borboleta presa num arbusto de espinhos. Quanto mais a borboleta lutava para se libertar, mais os espinhos cortavam suas asas frágeis. A menina órfã libertou cuidadosamente a borboleta de sua prisão de espinhos. Em vez de voar para longe, a pequena borboleta transformou-se numa bonita fada. A menina esfregou os olhos, sem acreditar.

- Por sua maravilhosa gentileza – disse a boa fada à menina -, vou realizar qualquer desejo que você escolher.

A menina pensou um pouco e depois respondeu:
- Eu quero ser feliz!

A fada disse:
- Muito bem – e, inclinando-se na direção dela, sussurrou alguma coisa no seu ouvido. Em seguida, a fada desapareceu.

Enquanto a menina crescia, não havia ninguém na região tão feliz quanto ela. Todos lhe perguntavam o segredo da sua felicidade. Ela apenas sorria e respondia:
- O segredo da minha felicidade é que ouvi o que uma boa fada me disse quando eu era menina.

Quando estava bem velhinha, em seu leito de morte, todos os vizinhos se reuniram à sua volta, com medo de que o maravilhoso segredo morresse com ela.
- Conte, por favor – imploraram eles. – Conte o que a boa fada disse.

A adorável velhinha simplesmente sorriu e respondeu:
- Ela me disse que todo mundo, por mais seguro que pareça, quer seja velho ou novo, rico ou pobre, precisa de mim.
 


The Speaker’s Sourcebook  
Histórias para Aquecer o Coração dos Adolescentes
Jack Canfield, Mark Victor Hansen e Kimberly Kirberger

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Até o céu!



Helena sentia uma coisa estranha toda vez que colocava sua filha no peito. Chamou isso de angústia e me chamou para perguntar: 

- É normal?

- Helena, é normal o peito apertar quando está cheio. E cheio ele fica quando se guarda as coisas só lá dentro. Sem esvaziar, sem compartilhar...

Os olhos de Helena ficavam molhados, mas não transbordavam, enquanto me ouvia falar. Disse a ela: 

 - Até o céu às vezes não chora?! E, quando ele chora, as plantas ficam verdinhas e felizinhas... É preciso deixar a água cair pra vida continuar.

Helena, espertinha, completou o raciocínio que estava a traçar: 

- É mesmo, até as plantas choram! Pra renascer a vida...


 Camila Sousa de Almeida




domingo, 2 de março de 2014

A menina e o pássaro encantado

Era uma vez uma menina que tinha um pássaro como seu melhor amigo.
Ele era um pássaro diferente de todos os demais: era encantado.
Os pássaros comuns, se a porta da gaiola ficar aberta, vão-se embora para nunca mais voltar. Mas o pássaro da menina voava livre e vinha quando sentia saudades… As suas penas também eram diferentes. Mudavam de cor. Eram sempre pintadas pelas cores dos lugares estranhos e longínquos por onde voava. Certa vez voltou totalmente branco, cauda enorme de plumas fofas como o algodão…
Menina, eu venho das montanhas frias e cobertas de neve, tudo maravilhosamente branco e puro, brilhando sob a luz da lua, nada se ouvindo a não ser o barulho do vento que faz estalar o gelo que cobre os galhos das árvores. Trouxe, nas minhas penas, um pouco do encanto que vi, como presente para ti…
E, assim, ele começava a cantar as canções e as histórias daquele mundo que a menina nunca vira. Até que ela adormecia, e sonhava que voava nas asas do pássaro.
Outra vez voltou vermelho como o fogo, penacho dourado na cabeça.
Venho de uma terra queimada pela seca, terra quente e sem água, onde os grandes, os pequenos e os bichos sofrem a tristeza do sol que não se apaga. As minhas penas ficaram como aquele sol, e eu trago as canções tristes daqueles que gostariam de ouvir o barulho das cachoeiras e ver a beleza dos campos verdes.
E de novo começavam as histórias. A menina amava aquele pássaro e podia ouvi-lo sem parar, dia após dia. E o pássaro amava a menina, e por isto voltava sempre.
Mas chegava a hora da tristeza.
Tenho de ir dizia.
Por favor, não vás. Fico tão triste. Terei saudades. E vou chorar…— E a menina fazia beicinho…
Eu também terei saudades dizia o pássaro. — Eu também vou chorar. Mas vou contar-te um segredo: as plantas precisam da água, nós precisamos do ar, os peixes precisam dos rios… E o meu encanto precisa da saudade. É aquela tristeza, na espera do regresso, que faz com que as minhas penas fiquem bonitas. Se eu não for, não haverá saudade. Eu deixarei de ser um pássaro encantado. E tu deixarás de me amar.
Assim, ele partiu. A menina, sozinha, chorava à noite de tristeza, imaginando se o pássaro voltaria. E foi numa dessas noites que ela teve uma ideia malvada: “Se eu o prender numa gaiola, ele nunca mais partirá. Será meu para sempre. Não mais terei saudades. E ficarei feliz…”
Com estes pensamentos, comprou uma linda gaiola, de prata, própria para um pássaro que se ama muito. E ficou à espera. Ele chegou finalmente, maravilhoso nas suas novas cores, com histórias diferentes para contar. Cansado da viagem, adormeceu. Foi então que a menina, cuidadosamente, para que ele não acordasse, o prendeu na gaiola, para que ele nunca mais a abandonasse. E adormeceu feliz.
Acordou de madrugada, com um gemido do pássaro…
Ah! menina… O que é que fizeste? Quebrou-se o encanto. As minhas penas ficarão feias e eu esquecer-me-ei das histórias… Sem a saudade, o amor ir-se-á embora…
A menina não acreditou. Pensou que ele acabaria por se acostumar. Mas não foi isto que aconteceu. O tempo ia passando, e o pássaro ficando diferente. Caíram as plumas e o penacho. Os vermelhos, os verdes e os azuis das penas transformaram-se num cinzento triste. E veio o silêncio: deixou de cantar.
Também a menina se entristeceu. Não, aquele não era o pássaro que ela amava. E de noite ela chorava, pensando naquilo que havia feito ao seu amigo…
Até que não aguentou mais.
Abriu a porta da gaiola.
Podes ir, pássaro. Volta quando quiseres…
Obrigado, menina. Tenho de partir. E preciso de partir para que a saudade chegue e eu tenha vontade de voltar. Longe, na saudade, muitas coisas boas começam a crescer dentro de nós. Sempre que ficares com saudade, eu ficarei mais bonito. Sempre que eu ficar com saudade, tu ficarás mais bonita. E enfeitar-te-ás, para me esperar…
E partiu. Voou que voou, para lugares distantes. A menina contava os dias, e a cada dia que passava a saudade crescia.
Que bom pensava ela o meu pássaro está a ficar encantado de novo…
E ela ia ao guarda-roupa, escolher os vestidos, e penteava os cabelos e colocava uma flor na jarra.
Nunca se sabe. Pode ser que ele volte hoje…
Sem que ela se apercebesse, o mundo inteiro foi ficando encantado, como o pássaro. Porque ele deveria estar a voar de qualquer lado e de qualquer lado haveria de voltar. Ah!
Mundo maravilhoso, que guarda em algum lugar secreto o pássaro encantado que se ama…
E foi assim que ela, cada noite, ia para a cama, triste de saudade, mas feliz com o pensamento: “Quem sabe se ele voltará amanhã….”
E assim dormia e sonhava com a alegria do reencontro.

As mais belas histórias de Rubem Alves
Lisboa, Edições Asa, 2003

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Esperando ter razão

Um garoto chega da escola temendo ter de encarar o dever de casa. E repete: "Meu dever de casa vai ser difícil. Não vou conseguir fazer."
A mãe pergunta: "Como você pode saber se ainda nem começou?"
O menino explica que quando a professora passou o dever, ela alertou a turma: "Não esperem para fazer o dever de casa no domingo. Façam no sábado. É uma tarefa difícil e a última turma não se saiu muito bem. Então se planejem para dedicar um bom tempo e trabalhar duro, pois será necessário."
A mãe do garoto imediatamente compreendeu que a professora havia influenciado seu filho de uma forma negativa, levando-o a esperar ter dificuldades para realizar o dever de casa.
Ela também compreendeu que provavelmente o dever não era tão difícil quanto o filho imaginava e que poderia facilmente influenciá-lo a mudar suas expectativas e torná-las mais positivas. Ela disse ao menino: "Para mim você vai resolver essa tarefa com muita facilidade. Você é bom em assimilar novas informações e em lembrar o que aprendeu. Meu palpite é que logo, logo você vai ter terminado o dever e vai aparecer aqui dizendo que foi facílimo."
É claro que o garoto abriu o maior sorriso e foi começar o dever de casa. Pouco tempo depois, voltou radiante. "Puxa", disse ele "você tinha razão, mãe. Da próxima vez que alguém tentar me convencer que não posso fazer algo, vou lembrar-me do que você disse sobre a minha capacidade de assimilar novas informações e vou dizer a mim mesmo que você tinha razão."

Autor desconhecido




domingo, 21 de abril de 2013

Errando para acertar


Estava jogando dardos, eu e mais três jogadores. Cada área do alvo tinha o seu valor se acertada, e o objetivo era atingir determinada pontuação com a soma dos três arremessos a que cada um tinha direito. Entre os quatro, era eu quem estava mais distante do objetivo, pois sempre acertava alguns centímetros pro lado esquerdo de onde mirava. Virei motivo de piada. Esperavam que qualquer um ganhasse primeiro, menos eu. Isso me fez atentar mais para minha falha... Percebi que estava errando sempre do mesmo jeito. Enquanto me zoavam, silenciosamente decidi utilizar o meu erro ao meu favor: mirei alguns centímetros pro lado direito de onde eu realmente queria acertar. Bingo! De uma só vez alcancei a pontuação que precisava e venci o jogo antes de todos os outros. Hahahahaha! ;)

Camila Sousa de Almeida



domingo, 13 de janeiro de 2013

Metáforas: uma loja de presentes




Metáfora vem do grego metaphorá, que significa meta (“além”) mais phorein (“transportar de um lugar para outro”). A metáfora é mais conhecida como uma figura de linguagem através da qual descrevemos uma coisa em termos de outra, como na famosa frase de Shakespeare em Romeu e Julieta: “Julieta é o sol”. A metáfora está intensamente, embora imperceptível, presente em tudo, desde a economia e a propaganda até a política e os negócios, na ciência e na Psicologia, ou seja, vivemos em um mundo repleto de símbolos e linguagem metafórica.

Uma parte interessante do poder transformador da metáfora é sua presença nas fábulas, parábolas e histórias infantis de todo mundo. Dessa forma, ao contar para as crianças uma metáfora, estamos criando, através de suas próprias representações internas, uma semente de mudança, onde os recursos admirados dos personagens e heróis, como coragem, força, determinação, paciência, entre outros, podem favorecer em muito o processo de a criança lidar com o medo, a timidez, a frustração e a superação de obstáculos no desenvolvimento infantil. Assim, podemos dizer que quando contamos uma metáfora para nossos filhos e eles ficam focados e absorvidos pelo encanto da história, estamos sendo ótimos hipnotistas.

As brincadeiras, os jogos, os desenhos e várias outras atividades infantis e de adolescentes funcionam como metáforas que facilitam o processo de mudança e aprendizagem. Uma verdadeira loja de presentes para o inconsciente e o processo hipnótico.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Não sabia que sabia


Um rei recebeu como obséquio dois filhotes de falcões e os entregou ao mestre da falcoaria para que os treinasse para a próxima temporada de caça, entretenimento dos nobres da época, enquanto esperavam por alguma guerra.

Passados alguns meses, o instrutor comunicou ao rei que uma das aves já estava com toda sua performance de caça pronta para ser testada, mas que a outra ave não tinha se movido do seu galho desde que tinha chegado ao palácio, a tal ponto de que tinham que lhe alcançar a comida, para que não morresse de fome.

O rei, um sujeito muito hábil, mandou chamar curandeiros e até senadores para que verificassem qual o problema com a ave, mas de nada adiantou, ela não saía do lugar...

Pelas janelas dos seus aposentos o monarca podia ver o pássaro imóvel no galho, e mesmo que sua pose fosse autêntica e seu corpo delineado, faltava-lhe a qualidade principal que era voar.

Publicou por fim um anúncio entre seus súditos procurando alguém que ensinasse o pássaro a voar. Na manhã seguinte, viu a ave voando agilmente pelos jardins!

- Traga-me o autor desse milagre! - disse o rei. - Quero recompensá-lo e aprender sua técnica mágica.

Quando o sujeito é apresentado, o rei lhe pergunta:

- Como conseguiste? Tu és mágico, por acaso?

E o homem respondeu:

- Não alteza, apenas observei que se cortasse o galho onde a ave se agarrava, ela iria precisar de algo mais, e isso eram suas asas...

Autor desconhecido


quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Tudo é uma grande brincadeira!

Quando eu era criança fiz uma brincadeira com uma amiga: avisei que faria duas perguntas e que ela deveria responder a que sabia. Perguntei: "sabe qual o nome do prédio vizinho ao condomínio do meu pai?" e rapidamente depois "qual o seu nome?". Ela respondeu: "Carla". Então eu comemorei o fato dela ter acertado ambas as respostas... Afinal, o meu objetivo era fazer ela acertar! Foi só uma brincadeira boba de criança; mas quando lembrei disso esta manhã, percebi que meu trabalho hoje é continuar brincando assim... :)

Camila Sousa de Almeida

sábado, 20 de outubro de 2012

"Do que depende a minha felicidade"

Joãozinho estudava e trabalhava de dia e só tinha a noite para brincar. Por isso, o pôr-do-sol trazia pra ele muita alegria. Um dia a professora pediu que os alunos fizessem uma redação com o tema "do que depende a minha felicidade". Na sua redação, Joãozinho falou do sol; contando que dependia do movimento dele para ter o melhor momento do seu dia. Ao ler a história, a professora aproveitou para dar uma lição de geografia: falou sobre o nosso sistema solar, onde o sol, no centro, fica circulado por planetas girando ao seu redor, além de girarem em torno de si mesmos... Foi aí que Joãozinho entendeu que na verdade o sol nunca se põe! Nós é que mudamos e, por isso, o enxergamos diferente.

Camila Sousa de Almeida

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Os lírios que crescem nos jardins

No meu jardim, em meio às orquídeas plantadas na terra, cresceu espontaneamente uma planta com umas folhas de um verde super bonito, que ninguém chamado de gente plantou. Uma vez saí de lá numa sexta-feira e uma folha dela estava com uns 5cm; mas quando cheguei na segunda ela havia crescido praticamente o dobro! Levei um susto, mas fui percebendo que é assim mesmo... Hoje estava regando as plantas e observei que a outra folha cresceu mais ou menos 2cm de ontem pra hoje. Que fantástico isso, né?! Cresce tão rápido... e a gente nem vê o movimento, só percebe depois que está visivelmente crescida. Eu fiquei me perguntando por que ela não faz isso na nossa frente! Parece que faz escondida, pra nos surpreender... Uma amiga me disse que se chama lírio, mas talvez tenha outros nomes...

Camila Sousa de Almeida

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Contador de Histórias




Os Contadores de Histórias da América Nativa são os guardiães de nossa história e de nossas Sagradas Tradições. Cabe a eles conservar vivos os nossos antigos conhecimentos para assegurar a futura expansão que nossos filhos trarão à Terra. Os Contadores de Histórias viajavam entre os grupos e as Tribos das diversas Nações, levando as notícias dos acontecimentos que afetavam a todos os Nativos. O Contador de Histórias costumava contar os fatos que aconteciam em outros acampamentos, ao redor da fogueira comunitária, depois do jantar. O Contador de Histórias falava de atos heróicos, da Contagem de Golpes sobre algum inimigo, de um Sonho de Cura que profetizasse futuros acontecimentos, de Histórias de Sabedoria que conservavam viva a Tradição ou, ainda, trazia as últimas notícias acerca de nascimentos e de mortes nas Tribos. 

Os Índios das Planícies costumavam chamar seus Contadores de Histórias de Cabelos Trançados. Esses Contadores de Histórias usavam uma pequena mecha com tranças e nós, que lhes caía pelo meio da testa e que os caracterizava como professores e historiadores da Tribo. Um Cabelo Trançado do sexo masculino não precisava participar das batalhas, mas deveria observar tudo e recordar-se mais tarde, passo a passo, do desenrolar da luta. Já um cabelo trançado do sexo feminino era a historiadora que mantinha viva a tradição feminina e que deveria ensinar as mulheres mais jovens a sentir orgulho de seus respectivos papéis dentro da Tribo. 

Os Contadores de Histórias de todas as Tribos e Nações constroem uma ponte entre os ensinamentos tradicionais e o momento presente. As crianças de todas as gerações aprendem as lições tradicionais que Os Contadores de Histórias ensinam e aplicam estas Histórias de Sabedoria às suas próprias vidas. Também os pais e avós costumavam contas as Histórias de Sabedoria para as suas crianças, todas as noites, na hora de colocá-las debaixo dos mantos de Búfalo para dormir. Mas isto não produzia o mesmo efeito que a chegada do Contador de Histórias da Nação, que visitava as Tribos regularmente para contar suas histórias às crianças. 

As Histórias de Sabedoria costumavam ser contadas e recontadas ano após ano para que os Ensinamentos do Povo permaneçam vivos. Cada história possui diversos significados e relaciona-se de formas diferentes à vida de cada pessoa. A cada vez que uma história é repetida, cresce o nível de entendimento, de acordo com o amadurecimento das pessoas que estão escutando. Os mesmos acontecimentos dentro de uma história também podem ser repetidos inúmeras vezes, de maneira diferente, para que cada ouvinte possa perceber de que modo aquela história se adapta melhor ao seu próprio momento de vida. 

O modo de pensar do Povo Vermelho difere bastante do modo de pensar dos outros povos. Nós não costumamos revelar qual é a verdadeira mensagem contida em nossas Histórias de Sabedoria. Preferimos deixar que as pessoas utilizem os seus dons individuais de intuição e observação para perceber o significado real dessas histórias. Assim, os ensinamentos da Raça Vermelha são transmitidos de forma que cada um possa aprender conforme o seu próprio ritmo e seu próprio modo de ser, dando liberdade a que cada pessoa aplique ou não estes ensinamentos à sua vida.

Os Contadores de Histórias aprendiam a respeitar a liberdade de pensamento de todos aqueles que iam em busca de sua Sabedoria. Desta maneira as crianças aprendiam a valorizar a própria inteligência e sentiam que eram membros respeitados de sua Tribo. O Contador de Histórias considerava cada criança como uma pessoa igual a ele, e colocava-se no mesmo nível dela. Se as crianças agissem de forma tola ou começassem a perturbar o grupo, eram simplesmente ignoradas, e fingia-se que elas nem mesmo estavam ali presentes. A falta de reconhecimento e de atenção logo punha fim ao mau comportamento. O Contador de Histórias conseguia passar dias seguidos fingindo que não via nem ouvia determinada criança. Esta forma de disciplina era muito mais eficiente do que o castigo corporal porque a criança se sentia envergonhada diante das outras crianças também. 

A memória ocupa um lugar especial em nossa Tradição Nativa Americana. Como as nossas histórias são transmitidas oralmente, a lembrança é cultivada como uma arte. Cada uma das ervas, plantas ou flores empregadas no processo de cura deve ser lembrada para as futuras gerações. Cada dança, Cerimônia, ritual, iniciação e ensinamento precisa ser guardado na memória. Todas as Leis e profecias tribais devem ser repassadas intactas para as futuras gerações. Os Golpes e as perdas precisam ser recordados para que se possam armar futuras estratégias. É claro que uma única pessoa não poderia recordar-se sozinha de todas essas coisas, ou tornar-se uma especialista em todos esses assuntos. É por isso que os diversos Clãs possuíam historiadores que guardavam a história oral de uma determinada área de conhecimento em sua memória. Estes fragmentos dos Ensinamentos Tribais eram repassados para a própria geração e cada pessoa recordava-se de um fragmento que fazia parte dos aspectos gerais da cultura nativa.

O Contador de Histórias da Tribo tinha um posto no Conselho de Anciões. Sendo um historiador, o Contador de Histórias era convocado a contar os fatos passados com total precisão para que estes acontecimentos ajudassem a solucionar os presentes problemas. Os Cabelos Trançados ensinavam a forma de viver de maneira equilibrada através das ações dos personagens das Histórias de Sabedoria. Uma História de Sabedoria, contada de maneira adequada, podia acabar com as discussões, mudar o curso de uma vida, insuflar novo ânimo em épocas difíceis ou ainda encorajar os jovens a assumir novas responsabilidades na vida. 

O Contador de Histórias possuía o dom de contar Histórias de Sabedoria nas quais as pessoas agiam levadas pelo medo ou pela ignorância, sem, no entanto, referir-se a alguma pessoa em particular. Assim, os ouvintes se tornavam capazes de chegar às suas próprias conclusões. Todos os Sábios Nativos preferem ensinar por meio de histórias a apontar diretamente os defeitos de alguém. Em nossos Ensinamentos sempre nos recordam que, quando apontamos o dedo acusando alguém, três outros dedos estarão apontados contra nós. Por outro lado, o Contador de Histórias consegue, com sua técnica, indicar delicadamente os pontos em que estamos errados, permitindo-nos corrigir nosso comportamento, sem ter que passarmos vergonha na frente dos companheiros. Esta é uma forma didática de permitir que cada pessoa decida como aplicar as histórias ouvidas em sua própria vida.


Trecho retirado do livro “As Cartas do Caminho Sagrado – A Descoberta do Ser Através dos Ensinamentos dos Índios Norte-Americanos”, de Jamie Sams.
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