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Sou uma terapeuta ericksoniana; trabalho com Psicoterapia Breve, utilizando, sob medida para cada pessoa, técnicas de Hipnose e Arteterapia. Sou também doula: acompanho gestantes durante o pré-natal, parto e pós-parto. Qualquer dúvida e interesse, entre em contato! Terei o maior prazer em poder ajudar. :)

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Contador de Histórias




Os Contadores de Histórias da América Nativa são os guardiães de nossa história e de nossas Sagradas Tradições. Cabe a eles conservar vivos os nossos antigos conhecimentos para assegurar a futura expansão que nossos filhos trarão à Terra. Os Contadores de Histórias viajavam entre os grupos e as Tribos das diversas Nações, levando as notícias dos acontecimentos que afetavam a todos os Nativos. O Contador de Histórias costumava contar os fatos que aconteciam em outros acampamentos, ao redor da fogueira comunitária, depois do jantar. O Contador de Histórias falava de atos heróicos, da Contagem de Golpes sobre algum inimigo, de um Sonho de Cura que profetizasse futuros acontecimentos, de Histórias de Sabedoria que conservavam viva a Tradição ou, ainda, trazia as últimas notícias acerca de nascimentos e de mortes nas Tribos. 

Os Índios das Planícies costumavam chamar seus Contadores de Histórias de Cabelos Trançados. Esses Contadores de Histórias usavam uma pequena mecha com tranças e nós, que lhes caía pelo meio da testa e que os caracterizava como professores e historiadores da Tribo. Um Cabelo Trançado do sexo masculino não precisava participar das batalhas, mas deveria observar tudo e recordar-se mais tarde, passo a passo, do desenrolar da luta. Já um cabelo trançado do sexo feminino era a historiadora que mantinha viva a tradição feminina e que deveria ensinar as mulheres mais jovens a sentir orgulho de seus respectivos papéis dentro da Tribo. 

Os Contadores de Histórias de todas as Tribos e Nações constroem uma ponte entre os ensinamentos tradicionais e o momento presente. As crianças de todas as gerações aprendem as lições tradicionais que Os Contadores de Histórias ensinam e aplicam estas Histórias de Sabedoria às suas próprias vidas. Também os pais e avós costumavam contas as Histórias de Sabedoria para as suas crianças, todas as noites, na hora de colocá-las debaixo dos mantos de Búfalo para dormir. Mas isto não produzia o mesmo efeito que a chegada do Contador de Histórias da Nação, que visitava as Tribos regularmente para contar suas histórias às crianças. 

As Histórias de Sabedoria costumavam ser contadas e recontadas ano após ano para que os Ensinamentos do Povo permaneçam vivos. Cada história possui diversos significados e relaciona-se de formas diferentes à vida de cada pessoa. A cada vez que uma história é repetida, cresce o nível de entendimento, de acordo com o amadurecimento das pessoas que estão escutando. Os mesmos acontecimentos dentro de uma história também podem ser repetidos inúmeras vezes, de maneira diferente, para que cada ouvinte possa perceber de que modo aquela história se adapta melhor ao seu próprio momento de vida. 

O modo de pensar do Povo Vermelho difere bastante do modo de pensar dos outros povos. Nós não costumamos revelar qual é a verdadeira mensagem contida em nossas Histórias de Sabedoria. Preferimos deixar que as pessoas utilizem os seus dons individuais de intuição e observação para perceber o significado real dessas histórias. Assim, os ensinamentos da Raça Vermelha são transmitidos de forma que cada um possa aprender conforme o seu próprio ritmo e seu próprio modo de ser, dando liberdade a que cada pessoa aplique ou não estes ensinamentos à sua vida.

Os Contadores de Histórias aprendiam a respeitar a liberdade de pensamento de todos aqueles que iam em busca de sua Sabedoria. Desta maneira as crianças aprendiam a valorizar a própria inteligência e sentiam que eram membros respeitados de sua Tribo. O Contador de Histórias considerava cada criança como uma pessoa igual a ele, e colocava-se no mesmo nível dela. Se as crianças agissem de forma tola ou começassem a perturbar o grupo, eram simplesmente ignoradas, e fingia-se que elas nem mesmo estavam ali presentes. A falta de reconhecimento e de atenção logo punha fim ao mau comportamento. O Contador de Histórias conseguia passar dias seguidos fingindo que não via nem ouvia determinada criança. Esta forma de disciplina era muito mais eficiente do que o castigo corporal porque a criança se sentia envergonhada diante das outras crianças também. 

A memória ocupa um lugar especial em nossa Tradição Nativa Americana. Como as nossas histórias são transmitidas oralmente, a lembrança é cultivada como uma arte. Cada uma das ervas, plantas ou flores empregadas no processo de cura deve ser lembrada para as futuras gerações. Cada dança, Cerimônia, ritual, iniciação e ensinamento precisa ser guardado na memória. Todas as Leis e profecias tribais devem ser repassadas intactas para as futuras gerações. Os Golpes e as perdas precisam ser recordados para que se possam armar futuras estratégias. É claro que uma única pessoa não poderia recordar-se sozinha de todas essas coisas, ou tornar-se uma especialista em todos esses assuntos. É por isso que os diversos Clãs possuíam historiadores que guardavam a história oral de uma determinada área de conhecimento em sua memória. Estes fragmentos dos Ensinamentos Tribais eram repassados para a própria geração e cada pessoa recordava-se de um fragmento que fazia parte dos aspectos gerais da cultura nativa.

O Contador de Histórias da Tribo tinha um posto no Conselho de Anciões. Sendo um historiador, o Contador de Histórias era convocado a contar os fatos passados com total precisão para que estes acontecimentos ajudassem a solucionar os presentes problemas. Os Cabelos Trançados ensinavam a forma de viver de maneira equilibrada através das ações dos personagens das Histórias de Sabedoria. Uma História de Sabedoria, contada de maneira adequada, podia acabar com as discussões, mudar o curso de uma vida, insuflar novo ânimo em épocas difíceis ou ainda encorajar os jovens a assumir novas responsabilidades na vida. 

O Contador de Histórias possuía o dom de contar Histórias de Sabedoria nas quais as pessoas agiam levadas pelo medo ou pela ignorância, sem, no entanto, referir-se a alguma pessoa em particular. Assim, os ouvintes se tornavam capazes de chegar às suas próprias conclusões. Todos os Sábios Nativos preferem ensinar por meio de histórias a apontar diretamente os defeitos de alguém. Em nossos Ensinamentos sempre nos recordam que, quando apontamos o dedo acusando alguém, três outros dedos estarão apontados contra nós. Por outro lado, o Contador de Histórias consegue, com sua técnica, indicar delicadamente os pontos em que estamos errados, permitindo-nos corrigir nosso comportamento, sem ter que passarmos vergonha na frente dos companheiros. Esta é uma forma didática de permitir que cada pessoa decida como aplicar as histórias ouvidas em sua própria vida.


Trecho retirado do livro “As Cartas do Caminho Sagrado – A Descoberta do Ser Através dos Ensinamentos dos Índios Norte-Americanos”, de Jamie Sams.

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