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Aracaju, Sergipe, Brazil
Sou uma terapeuta ericksoniana; trabalho com Psicoterapia Breve, utilizando, sob medida para cada pessoa, técnicas de Hipnose e Arteterapia. Sou também doula: acompanho gestantes durante o pré-natal, parto e pós-parto. Qualquer dúvida e interesse, entre em contato! Terei o maior prazer em poder ajudar. :)

sábado, 29 de setembro de 2012

Uma viagem



Impedidos de entrar em bando, escaparam pra dentro feito um assalto. Não falaram nada que não fosse por gestos: “você ali, ele lá, aquele acolá”. Parecia uma banda de música nova dando suas coordenadas. 

Criaram o ambiente propício, sem cotoveladas, e foram pra ponta da varanda, onde se via a lua... dentro, mas fora. 

Aplaudiram a si mesmos com entusiasmo e fizeram festa em dia de semana. Não eram mais do que eles mesmos. Estavam sós, naquilo que alguns chamavam de inteiro, mas por serem pacíficos, trocavam brigas por beijos. 

Quem eram eles? Os elementos de um cesta sem feira; partes de sua mente. Consciente e inconsciente: uma mente perfeita. 

Camila Sousa de Almeida

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

"A Bruxa do Bem"



Ontem assisti pedaços de um filme de sessão da tarde, desses bem sessão da tarde mesmo, chamado “A Bruxa do Bem”. De uma forma light ele expôs um assunto muito sério. Vou relatar: um menino de mais ou menos 12 anos de idade estava sendo ameaçado na escola por outro, “o valentão”, que roubava seu lanche e, na falta de lanche, queria dinheiro. O menino estava se submetendo a isso, até que “o valentão” passou a ameaçar sua irmã também, e aí o menino manifestou pela primeira vez (o que me pareceu, mesmo sendo a primeira cena do filme que vi) uma reação de defesa. Reagiu, mas apanhou e caiu. 

O tal menino procurou o avô para aprender boxe com ele, mas o avô sugeriu que ele pedisse ajuda do pai. Não sei por que, mas ele não queria pedir ajuda do pai para isso, então deixou essa idéia pra lá. Foi procurar ajuda com a tal “bruxa” que havia chegado há pouco tempo na cidade, na loja em que vendia “instrumentos de magia”, tais como pedras, máscaras...

Pediu a ela um antídoto para transformar alguém em sapo. Compreendendo a situação, ela lhe disse que na verdade só precisaria de algo que transformasse a pessoa em algo menos ameaçador... Explicou que seria difícil, e que ia necessitar da ajuda dele: deu-lhe uma pedra (acho que uma drusa de ametista) e disse para ir até a casa do “valentão”; depois dar um jeito de apresentar ele ao seu pai e fazê-lo tocar na pedra, antes de devolver a ela. Ele perguntou, espantado: “mas como eu vou fazer tudo isso?!” Ela disse que não sabia como, mas que ele precisaria de muita coragem...

Chegando à casa do “valentão”, o menino, escondido, viu uma cena: o filho apanhando do pai, que gritava para ele esvaziar os bolsos. O filho chorava e dizia que não tinha nada. Quando o pai foi embora, “o valentão” ficou chorando até que viu o menino lhe olhando; e aí instantaneamente seu olhar passou de vítima indefesa para olhar de agressor... Foi brigar com o menino, que disse que estava ali porque pensou que podiam brincar juntos! “Ou você é muito burro ou tem muita coragem”, disse “o valentão”. E eles foram para a casa do menino brincar.

Em casa, o menino apresentou o outro ao pai, e depois foi contar a ele a situação do amigo: o pai dele era alcoólatra e o deixava sozinho, muitas vezes sem comida... A mãe os havia abandonado quando ele tinha por volta de seis anos. O pai do menino prometeu tentar ajudar. Assim, os meninos se tornaram amigos de verdade e a pedra foi devolvida à “bruxa” com a resposta de que não precisava mais daquela ajuda dela...

Enquanto isso, as pessoas da cidade tentavam de todo jeito expulsar “a bruxa” da cidade, comandados pela “primeira-dama”, que fez até uma reunião com as mulheres para planejarem uma estratégia para alcançar tal objetivo. Dois adolescentes acabaram pichando o muro da loja dela, mas foram pegos pela polícia. E quem diria, eram os filhos do prefeito. 

Na delegacia, a “primeira-dama” chega achando um absurdo tratarem os filhos dela como presos normais, exigindo regalias. O prefeito chega logo depois, e o policial manda que eles sejam fichados e presos normalmente, mas “a bruxa” diz que não prestará queixa, pois não quer prejudicar a vida deles. O pai dos jovens diz que eles limparão tudo que fizeram e que pagarão todos os prejuízos causados, mas a mãe protesta, achando tudo um absurdo. O pai se impõe e lhe diz: “todo esse seu ódio e desejo de vingança transformou nossos filhos em delinqüentes!”. 

Pais que foram filhos... filhos que serão pais... crianças, adolescentes, adultos, idosos: gente como a gente, que aprende.

Camila Sousa de Almeida

Economia Sagrada




*O áudio está em inglês, mas você tem a opção de ativar as legendas.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Contador de Histórias




Os Contadores de Histórias da América Nativa são os guardiães de nossa história e de nossas Sagradas Tradições. Cabe a eles conservar vivos os nossos antigos conhecimentos para assegurar a futura expansão que nossos filhos trarão à Terra. Os Contadores de Histórias viajavam entre os grupos e as Tribos das diversas Nações, levando as notícias dos acontecimentos que afetavam a todos os Nativos. O Contador de Histórias costumava contar os fatos que aconteciam em outros acampamentos, ao redor da fogueira comunitária, depois do jantar. O Contador de Histórias falava de atos heróicos, da Contagem de Golpes sobre algum inimigo, de um Sonho de Cura que profetizasse futuros acontecimentos, de Histórias de Sabedoria que conservavam viva a Tradição ou, ainda, trazia as últimas notícias acerca de nascimentos e de mortes nas Tribos. 

Os Índios das Planícies costumavam chamar seus Contadores de Histórias de Cabelos Trançados. Esses Contadores de Histórias usavam uma pequena mecha com tranças e nós, que lhes caía pelo meio da testa e que os caracterizava como professores e historiadores da Tribo. Um Cabelo Trançado do sexo masculino não precisava participar das batalhas, mas deveria observar tudo e recordar-se mais tarde, passo a passo, do desenrolar da luta. Já um cabelo trançado do sexo feminino era a historiadora que mantinha viva a tradição feminina e que deveria ensinar as mulheres mais jovens a sentir orgulho de seus respectivos papéis dentro da Tribo. 

Os Contadores de Histórias de todas as Tribos e Nações constroem uma ponte entre os ensinamentos tradicionais e o momento presente. As crianças de todas as gerações aprendem as lições tradicionais que Os Contadores de Histórias ensinam e aplicam estas Histórias de Sabedoria às suas próprias vidas. Também os pais e avós costumavam contas as Histórias de Sabedoria para as suas crianças, todas as noites, na hora de colocá-las debaixo dos mantos de Búfalo para dormir. Mas isto não produzia o mesmo efeito que a chegada do Contador de Histórias da Nação, que visitava as Tribos regularmente para contar suas histórias às crianças. 

As Histórias de Sabedoria costumavam ser contadas e recontadas ano após ano para que os Ensinamentos do Povo permaneçam vivos. Cada história possui diversos significados e relaciona-se de formas diferentes à vida de cada pessoa. A cada vez que uma história é repetida, cresce o nível de entendimento, de acordo com o amadurecimento das pessoas que estão escutando. Os mesmos acontecimentos dentro de uma história também podem ser repetidos inúmeras vezes, de maneira diferente, para que cada ouvinte possa perceber de que modo aquela história se adapta melhor ao seu próprio momento de vida. 

O modo de pensar do Povo Vermelho difere bastante do modo de pensar dos outros povos. Nós não costumamos revelar qual é a verdadeira mensagem contida em nossas Histórias de Sabedoria. Preferimos deixar que as pessoas utilizem os seus dons individuais de intuição e observação para perceber o significado real dessas histórias. Assim, os ensinamentos da Raça Vermelha são transmitidos de forma que cada um possa aprender conforme o seu próprio ritmo e seu próprio modo de ser, dando liberdade a que cada pessoa aplique ou não estes ensinamentos à sua vida.

Os Contadores de Histórias aprendiam a respeitar a liberdade de pensamento de todos aqueles que iam em busca de sua Sabedoria. Desta maneira as crianças aprendiam a valorizar a própria inteligência e sentiam que eram membros respeitados de sua Tribo. O Contador de Histórias considerava cada criança como uma pessoa igual a ele, e colocava-se no mesmo nível dela. Se as crianças agissem de forma tola ou começassem a perturbar o grupo, eram simplesmente ignoradas, e fingia-se que elas nem mesmo estavam ali presentes. A falta de reconhecimento e de atenção logo punha fim ao mau comportamento. O Contador de Histórias conseguia passar dias seguidos fingindo que não via nem ouvia determinada criança. Esta forma de disciplina era muito mais eficiente do que o castigo corporal porque a criança se sentia envergonhada diante das outras crianças também. 

A memória ocupa um lugar especial em nossa Tradição Nativa Americana. Como as nossas histórias são transmitidas oralmente, a lembrança é cultivada como uma arte. Cada uma das ervas, plantas ou flores empregadas no processo de cura deve ser lembrada para as futuras gerações. Cada dança, Cerimônia, ritual, iniciação e ensinamento precisa ser guardado na memória. Todas as Leis e profecias tribais devem ser repassadas intactas para as futuras gerações. Os Golpes e as perdas precisam ser recordados para que se possam armar futuras estratégias. É claro que uma única pessoa não poderia recordar-se sozinha de todas essas coisas, ou tornar-se uma especialista em todos esses assuntos. É por isso que os diversos Clãs possuíam historiadores que guardavam a história oral de uma determinada área de conhecimento em sua memória. Estes fragmentos dos Ensinamentos Tribais eram repassados para a própria geração e cada pessoa recordava-se de um fragmento que fazia parte dos aspectos gerais da cultura nativa.

O Contador de Histórias da Tribo tinha um posto no Conselho de Anciões. Sendo um historiador, o Contador de Histórias era convocado a contar os fatos passados com total precisão para que estes acontecimentos ajudassem a solucionar os presentes problemas. Os Cabelos Trançados ensinavam a forma de viver de maneira equilibrada através das ações dos personagens das Histórias de Sabedoria. Uma História de Sabedoria, contada de maneira adequada, podia acabar com as discussões, mudar o curso de uma vida, insuflar novo ânimo em épocas difíceis ou ainda encorajar os jovens a assumir novas responsabilidades na vida. 

O Contador de Histórias possuía o dom de contar Histórias de Sabedoria nas quais as pessoas agiam levadas pelo medo ou pela ignorância, sem, no entanto, referir-se a alguma pessoa em particular. Assim, os ouvintes se tornavam capazes de chegar às suas próprias conclusões. Todos os Sábios Nativos preferem ensinar por meio de histórias a apontar diretamente os defeitos de alguém. Em nossos Ensinamentos sempre nos recordam que, quando apontamos o dedo acusando alguém, três outros dedos estarão apontados contra nós. Por outro lado, o Contador de Histórias consegue, com sua técnica, indicar delicadamente os pontos em que estamos errados, permitindo-nos corrigir nosso comportamento, sem ter que passarmos vergonha na frente dos companheiros. Esta é uma forma didática de permitir que cada pessoa decida como aplicar as histórias ouvidas em sua própria vida.


Trecho retirado do livro “As Cartas do Caminho Sagrado – A Descoberta do Ser Através dos Ensinamentos dos Índios Norte-Americanos”, de Jamie Sams.

sábado, 22 de setembro de 2012

Reclamando, reclamando... voltando a clamar!

Carina reclamava da vida. Minto, reclamava do que não tinha. Assim, ocupava seu tempo e gastava sua energia. Um dia, na sala de espera de um consultório médico ou psicológico, ela sentou ao lado de uma senhora - pra não dizer velha - que só fazia reclamar. 

Alguns chamariam isso de lei da atração, outros de boa ou má sorte, e alguns outros não chamariam de nada. Afinal, a gente só chama o que quer chamar. Ou não?

De qualquer forma, Carina passou horas ouvindo e vendo o que ela não desejava para si: dificuldades para fazer as coisas mais simples, como caminhar, sentar, levantar, enxergar... Pensou que tudo isso a aguardava no futuro ou na velhice, e pela primeira vez percebeu o quanto era bom fazer o que fazia, com tanta facilidade, e todos os dias ainda por cima! Como não havia percebido antes?!

O prazer e a graça escondidos surgiram, como se fosse o sol tentando entrar diariamente pelas janelas da casa que ela só agora abrira. Sentiu-se grata, aproveitando o presente que supostamente amanhã acabaria... 

Concluiu que o momento da vida que estava vivendo era o melhor. Mas, mal sabia ela tudo que saberia lá na frente... quando o amanhã se tornasse presente... mal sabia tudo que teria aprendido a apreciar profundamente, e quantos prazeres sentiria, só quando chegasse lá...

Camila Sousa de Almeida


sexta-feira, 21 de setembro de 2012

O homem em contato com sua alma




A idéia de escrever sobre o assunto foi o ponto de partida para um mergulho interior, já que praticá-lo se faz pré-requisito para teorizá-lo. Assim como no exemplo de Carl Gustav Jung (1875-1961), psiquiatra suíço que diferenciou-se da Psicanálise de Freud – dominante na época – e criou a Psicologia Analítica (ou Jungiana) a partir de um contato mais profundo consigo mesmo. 

E por que entrar em contato consigo mesmo é entrar em contato com a nossa alma? Porque, independente de religião ou crenças, utilizamos a palavra alma nos referindo à essência, àquela parte primordial da qual depende todo o resto da experiência do ser – humano ou não. É da alma aquilo que é íntimo, profundo, central, assim como o pedaço de madeira ou metal entre a sola e a palmilha de um sapato. 

Complexa, nossa alma é um mundinho próprio que determina como percebemos o mundo ao nosso redor;  um verdadeiro infinito particular, como diria Marisa Monte.  

Milton Erickson (1901 – 1980), outro grande psiquiatra, criador da Hipnose Moderna e da Psicoterapia Breve Estratégica, ensinou que todos temos dentro de nós tudo o que precisamos para solucionar nossos problemas – o que nós chamamos de Parte Sábia. Podemos atingir esses recursos e informações acessando o nosso inconsciente, assim como Erickson o compreendia: um baú dos tesouros. Tudo o que vivenciamos, todas as nossas experiências e o que absorvemos delas são armazenadas e nós nunca chegamos a conhecer todo esse conteúdo. Por isso às vezes nos surpreendemos com uma idéia genial surgida justamente nos momentos de descontração, quando não estávamos nos esforçando em raciocinar sobre aquilo. Diferentemente do que costumamos valorizar no dia-a-dia, o inconsciente funciona através do simbólico, do artístico e integrativo. E ora se não é exatamente os meios por quais entramos em contato com a nossa alma! Somos realmente tocados por aquilo que é capaz de nos reunir no aqui e agora, nos re-unir com nós mesmos; juntar tudo aquilo que Eu Sou e estar naquele momento por inteiro:  “de corpo e alma”.

Para entrar em contato com a nossa alma não precisa muito, basta ouvir uma música que gostamos de olhos fechados; cantar como se a voz fosse um filho a nascer; “dançar como se ninguém estivesse olhando”; ler um poema e sentí-lo ao ponto de achar que é seu; apreciar uma obra-de-arte – que é tudo e todos que lhe dilata as pupilas; olhar nos olhos e ouvir o silêncio... enfim, cada um sabe como chegar a si, pois cada um é dono do seu próprio caminho. E vários são os caminhos para se chegar a um mesmo destino...

Além do desfrute, todos os exemplos acima citados podem levar a pessoa a um estado alternativo de consciência. Hipnose é antes de tudo um momento de contato consigo mesmo. Para Erickson toda hipnose é um auto-hipnose; mesmo sendo conduzido, entregar-se depende completamente de você, e é o seu Eu quem definirá o rumo a seguir. 

Esse Eu, na Teoria Jungiana, é representado pela palavra Self, que é o centro da personalidade, a qual se estrutura em diferentes sistemas que inter-relacionam-se, a saber: o ego, o inconsciente pessoal e seus complexos, e o inconsciente coletivo e seus arquétipos, a anima e o animus e a sombra, além das atitudes de introversão e extroversão e as funções do pensamento, sentimento, sensação e intuição. 

Sem entrar em detalhes sobre cada um desses sistemas, podemos esclarecer alguns pontos. O ego pode ser compreendido como o centro da consciência; uma parte da personalidade total que, influenciada pelo Self, tem a tarefa de equilibrar as necessidades deste com as exigências do mundo externo. Exigências essas que dão origem à persona: a máscara assumida por nós que facilita o convívio social. Tal como uma roupa que vestimos de acordo com o evento, as máscaras podem variar dependendo do papel esperado de nós. A capacidade de adaptação é uma virtude, portanto o perigo está quando o indivíduo limita-se ao ponto de identificar-se com a persona e esquecer Quem Realmente É. A alma humana não é limitada: é dinâmica e criativa; pulsa, vibra, transforma-se e provoca transformações.   

Para Jung, a psique – totalidade dos processos psíquicos, conscientes e inconscientes – (do grego psykhé = alma) caminha sempre na direção do seu próprio centro, da unicidade, o que é chamado de individuação. Este processo de conhecer a si mesmo e integrar-se novamente não ocorre linearmente, e é uma busca constante, como as águas de um rio sempre a fluir em direção ao oceano. 

O homem tem mantido uma concepção de mundo dividido em polaridades, como se tudo devesse (e como se pudesse) ser apenas preto ou branco; ser bom ou mau; ser ou isso ou aquilo. Entretanto, onde há luz há sombra e tudo que existe pressupõe a antítese. Observe-se no espelho e atente para o fato de que a sua imagem refletida naturalmente está com os lados trocados... A sombra descrita por Jung reflete justamente aquilo que a personalidade não expressa conscientemente, e que mesmo assim existe, para torná-la possível. É o contrapeso que equilibra a balança do ser. 

Similarmente, dentro de todos nós convivem polaridades que se complementam: a anima e o animus. O homem, que expressa conscientemente o lado masculino da sua personalidade, também possui dentro de si o seu lado feminino; e vice-versa. Permitir-se uma integração de ambos é deixar aflorar a plenitude da sua sabedoria. Pois, assim como o lado direito e o lado esquerdo do cérebro absorvem e processam as informações de modos diferentes, o homem e a mulher funcionam de forma diversa e ambos têm muito a aprender e ensinar um ao outro. É a união dos diferentes saberes que faz a sabedoria. Então aquela Parte Sábia talvez não seja uma “parte”, mas sim a união no Todo. Ou não?

Os hemisférios cerebrais são delimitados e têm seus próprios modos de funcionar, mas trabalham em conjunto. Fisicamente, há um órgão que faz a ligação entre eles: o corpo caloso – a possibilidade de união concretamente garantida. Normalmente há o predomínio de um lado: nos homens do hemisferio esquerdo, linear, lógico, racional; e nas mulheres do hemisferio direito, intuitivo, artístico, que reconhece as emoções e processa a integração das partes. O que falta em um, o outro preenche. Teresa Robles, uma antropóloga e psicóloga ericksoniana do México, afirma que “a Hipnose é uma linguagem especial onde se desenvolve um estado de melhor comunicação entre os dois hemisférios cerebrais”. A genialidade de Milton Erickson estava justamente na sua capacidade de utilizar ambos os lados em busca de um mesmo objetivo, de forma que observava atentamente as pessoas (sensação) e intuitivamente produzia um pensamento adequado para afetá-las (sentimento) no ponto certo. Utilizando assim equilibradamente todas as funções psicológicas descritas por Jung: sensação, intuição, pensamento e sentimento.  Além de extrair o máximo dos seus momentos de introspecção para tomar uma atitude extrovertida bem elaborada e eficaz, sempre que os outros necessitavam. 

É uma idéia bem difundida a de que utilizamos apenas uma pequena porcentagem da nossa capacidade cerebral. Provavelmente esta melhor comunicação entre os dois lados seja meio caminho andado no desenvolvimento do nosso potencial. Jung acreditava na união dos contrários a partir do que ele chamava de “função transcendente”: uma capacidade de transcender a tendência destrutiva de empurrar (ou ser empurrado) para um ou para outro lado, permitindo o confronto entre os opostos em termos iguais, numa totalidade. Isto se daria através de um símbolo, que é uma forma complexa nem racional nem irracional, mas as duas coisas  ao mesmo tempo; que aproxima consciente e inconsciente e permite uma síntese.

De acordo com Jung "um símbolo não traz explicações; impulsiona para além de si mesmo na direção de um sentido ainda distante, inapreensível, obscuramente pressentido e que nenhuma palavra de língua falada poderia exprimir de maneira satisfatória". 

A alma do homem e da mulher, tudo aquilo que ele e ela É, expressa-se plenamente por meio da linguaguem simbólica, devido a sua singular complexidade. Assim, para fechar com chave de ouro, ofereço um poema nascido do encontro com a minha alma, no processo que foi escrever este texto:

Toda. É assim que serei inteira e completa. Sendo eu no eterno vir a se tornar. Totalmente inundada e preenchida de todos os tempos do mundo, para me tornar certa de nunca ter sido outra. Por já não ter sido tantas vezes, aceito a mim. Aceito tu e vocês, elas e os outros. Todos tão calmos, mas surrupiados do Dono. Tendo seus postos alheios a serem. Para terem, não são, só sonham e tentam acreditar. Tocando-se tornam-se e voltam ao Ser Central que é universo eterno e infindável de outros, não são eu. Volto a mim. E agora posso tocar tu e mostrar que és, porque Eu Sou. 

 Camila Sousa de Almeida

*Texto escrito em janeiro de 2010. Estava guardado no meu baú... :)

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