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Aracaju, Sergipe, Brazil
Sou uma terapeuta ericksoniana; trabalho com Psicoterapia Breve, utilizando, sob medida para cada pessoa, técnicas de Hipnose e Arteterapia. Sou também doula: acompanho gestantes durante o pré-natal, parto e pós-parto. Qualquer dúvida e interesse, entre em contato! Terei o maior prazer em poder ajudar. :)

sábado, 19 de janeiro de 2013

O que dá pra prever pelas prévias


Esses dias está acontecendo uma prévia carnavalesca na cidade onde moro atualmente; é um evento comum no Brasil aqui pelas bandas do Nordeste, onde tocam cantores(as) e bandas em trios elétricos. O povo participa acompanhando pela avenida dentro dos blocos, ou do lado de fora (a “pipoca”), ou assistindo dos camarotes.

E nisso, uma amiga está recebendo um estrangeiro que pouco sabe do nosso país/estado nessas poucas semanas em que está morando aqui. Assistindo o tal evento acima citado, o homem ficou espantado com as “danças típicas”, que não são normais no lugar de onde ele veio, nem mesmo nas outras partes do mundo por onde já passou. Ficou meio confuso diante da sensualidade explícita e questionou o que ele pode ou não fazer, e a partir de que idade certas coisas são permitidas por aqui. Eu fico imaginando o que ele viu... E quão jovens eram as meninas que ele viu se comportando do jeito que ele viu...

Bem, a palavra cultura vem do latim colere, que significa cultivar, portanto esta varia dependendo do que é cultivado em cada época e lugar. Essa variedade cultural ao redor do mundo e através do tempo nos traz a idéia de que somos livres, já que, comprovadamente, há muitas possibilidades. Mas há que se reconhecer também que a liberdade não existe para a colheita: o que se planta, é o que se colhe.

Podemos perceber que nas últimas décadas o sexo foi sendo banalizado e supervalorizado nas músicas mais populares, principalmente de uma forma depreciativa em relação às mulheres. E tudo isso de um jeito tão sutil, em paradoxo às letras e danças explícitas, que as próprias mulheres depreciadas não se sentem ofendidas, aplaudindo e participando ativamente da disseminação de tais “valores”.

E isso não se restringe à classes sociais nem estilos musicais específicos; nem mesmo à temática sexual, mas em tantas outras que vão criando, nas mentes dos ouvidos que ouvem, colheitas venenosas que provocam um adoecimento social. Sem analisar o significado do que ouvem, cantam e dançam, as pessoas estão cultivando, muitas vezes sem consciência: preconceito, discriminação, competitividade, baixa auto estima, possessividade, dependência emocional, egoísmo, e por aí vai...

Dia desses ouvi na rádio uma música de um cantor, nacionalmente conhecido e valorizado, com letra absurda:

Mulher preguiçosa, mulher tão dengosa, mulher

Você não passa de uma mulher (ah, mulher)
Mulher tão bacana e cheia de grana, mulher
Você não passa de uma mulher (ah, mulher)
Você não passa de uma mulher (ah, mulher)
Você não passa de uma mulher
Olha que moça bonita,
Olhando pra moça mimosa e faceira,
Olhar dispersivo, anquinhas maneiras,
Um prato feitinho pra garfo e colher
Eu lhe entendo, menina,
Buscando o carinho de um modo qualquer
Porém lhe afirmo, que apesar de tudo,
Você não passa de uma mulher (ah, mulher)
Você não passa de uma mulher
Olha a moça inteligente,
Que tem no batente o trabalho mental
QI elevado e pós-graduada
Psicanalizada, intelectual
Vive à procura de um mito,
Pois não se adapta a um tipo qualquer
Já fiz seu retrato, apesar do estudo,
Você não passa de uma mulher (viu, mulher?)
Você não passa de uma mulher (ah, mulher)
Menina-moça também é mulher (ah, mulher)
Pra ficar comigo tem que ser mulher (tem, mulher)
Fazer meu almoço e também meu café (só mulher)
Não há nada melhor do que uma mulher (tem, mulher?)
Você não passa de uma mulher (ah, mulher)


Martinho da Vila

E o que é mais interessante: no backing vocal, mulheres estavam cantando isso junto com ele! E outro dia, mais uma vez na rádio, escutei o trecho de uma “música” que dizia mais ou menos assim: “no peito, no peito, no peito, no peito... e quem não tem peito, não se desiluda, vai na bunda, na bunda, na bunda, na bunda...”. Mas, acreditem, o pior ainda estava por vir: ao acabar de tocar a “música”, o radialista comenta “e quem não tem nem peito nem bunda? Melhor nem sair, fica em casa mesmo!”, e caiu na gargalhada. Eu fiquei um tempo pensando se realmente tinha escutado tudo aquilo... Mais triste é pensar nas mentes, principalmente aquelas na fase mais intensa de corpo em formação, ouvindo isso...

Todo mundo sabe, pela prática, que a repetição fortalece. Mas nem todo mundo sabe (ou percebe que sabe) que ouvir algo repetidamente, mesmo que seja por puro entretenimento ou até contra a sua vontade, fortalece aquele conteúdo dentro de você. E o que está dentro, pode ficar inconsciente; mas o inconsciente influencia você diariamente, mesmo que você não perceba.   

Se é melhor prevenir do que remediar, penso que nós, profissionais de Psicologia, temos que trabalhar muito mais pela conscientização social, pois não somos suficientes para recuperar tamanho estrago desse cultivo atual. E paralelamente, cultivemos outras sementes!

Camila Sousa de Almeida


domingo, 13 de janeiro de 2013

Metáforas: uma loja de presentes




Metáfora vem do grego metaphorá, que significa meta (“além”) mais phorein (“transportar de um lugar para outro”). A metáfora é mais conhecida como uma figura de linguagem através da qual descrevemos uma coisa em termos de outra, como na famosa frase de Shakespeare em Romeu e Julieta: “Julieta é o sol”. A metáfora está intensamente, embora imperceptível, presente em tudo, desde a economia e a propaganda até a política e os negócios, na ciência e na Psicologia, ou seja, vivemos em um mundo repleto de símbolos e linguagem metafórica.

Uma parte interessante do poder transformador da metáfora é sua presença nas fábulas, parábolas e histórias infantis de todo mundo. Dessa forma, ao contar para as crianças uma metáfora, estamos criando, através de suas próprias representações internas, uma semente de mudança, onde os recursos admirados dos personagens e heróis, como coragem, força, determinação, paciência, entre outros, podem favorecer em muito o processo de a criança lidar com o medo, a timidez, a frustração e a superação de obstáculos no desenvolvimento infantil. Assim, podemos dizer que quando contamos uma metáfora para nossos filhos e eles ficam focados e absorvidos pelo encanto da história, estamos sendo ótimos hipnotistas.

As brincadeiras, os jogos, os desenhos e várias outras atividades infantis e de adolescentes funcionam como metáforas que facilitam o processo de mudança e aprendizagem. Uma verdadeira loja de presentes para o inconsciente e o processo hipnótico.

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