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Aracaju, Sergipe, Brazil
Sou uma terapeuta ericksoniana; trabalho com Psicoterapia Breve, utilizando, sob medida para cada pessoa, técnicas de Hipnose e Arteterapia. Sou também doula: acompanho gestantes durante o pré-natal, parto e pós-parto. Qualquer dúvida e interesse, entre em contato! Terei o maior prazer em poder ajudar. :)

domingo, 23 de dezembro de 2012

No ponto da calçada





Uma mulher passa e tropeça numa pedra. 


Sem parar, olha pra trás chateada com ela. 

Continua o caminho. 

A mulher que vem atrás também olha mas, diferentemente, tira a pedra da passagem. 


Topou com a pedra sem levar topada, e ainda garantiu que ninguém mais tropeçasse, por aquele motivo, naquela calçada. 

Ambas calçadas...

Camila Sousa de Almeida




segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Conte mais


Certa vez, uma professora me ensinou que em alguns lugares, onde quase ninguém sabia ler, não existiam histórias escritas, textos tais quais conhecemos como sendo literatura, hoje. Em alguns países da África, por exemplo, existiu algo antes dos textos escritos, que eram os chamados contos populares. Acredito que, em muitos outros lugares existiu algo pa
recido. Esses contos eram histórias contadas pela pessoa mais velha da tribo ou do grupo, que era muito respeitada e reconhecida como a mais sábia por causa de seus cabelos brancos. Os contos eram sobre coisas que os mais velhos diziam ter presenciado, e sempre tinha uma lição, uma moral a se pregada. Através desses contos, eram passados os valores, de pai para filho, de geração para geração. Nas tribos africanas, em que as pessoas acreditavam muito na necessidade da harmonia do homem com a natureza, muitas histórias eram justamente sobre isso e sempre que alguém quebrasse essa harmonia, algo de ruim acontecia, vindo da própria natureza.

Independente da cultura, dos modos de ver o mundo, das crenças, temos de convir que "contar" é um método de educação muito eficaz. Estamos falando de um povo que não tinha estudo, ainda não tinha a tal “educação dos brancos", nem nada parecido e desde sempre teve a cultura de ensinar os seus filhos a importância da natureza, da honestidade, do respeito e amor ao próximo, mesmo que esse próximo seja uma árvore, um animal.


Além de transmitir valores de pai para filho, o ato de contar histórias tem outros benefícios, entre eles, despertar a imaginação e a criatividade. E, como disse certa vez o educador Jean Piaget "o principal objetivo da educação é criar pessoas capazes de fazer coisas novas e não simplesmente repetir o que as outras gerações fizeram." Ou seja, contando histórias, você educa, conduzindo a pessoa à reflexão.


Hoje, não temos o hábito de nos reunirmos com nossos familiares, tão pouco com pessoas de nosso bairro para contar-lhes histórias com uma intenção pedagógica. Até porque isso não é de nossa cultura. Entretanto, podemos deixar nosso legado sim e ensinar os nossos filhos à nossa maneira. Contar história deveria entrar novamente nos nossos planos, por ser um recurso tão produtivo, principalmente se tratando de crianças. Então, porque não contar mais?!

Mariana Motta

domingo, 16 de dezembro de 2012

Sabichões e sabichonas


Eles moravam na beira da estrada. Por um lado, pois do outro era mata. Ela não era fechada: todos os dias as crianças entravam adentro para se divertir e colher alimentos. Diziam brincar de “se perfumar por dentro”, “colorir o sangue de vermelho” e “lavar a roupa do avesso”. Pisando na terra, pegando sol, lua e chuva, correndo com bicho e subindo em árvore; era assim a escola deles, pois ninguém ali estudava, mas todo mundo aprendia. A vida era simples demais pra qualquer um querer complicá-la.

Mas as coisas do mundo não são como as coisas da natureza: o humano é capaz até de perder a humanidade. Um grupo desses, que se dizia ser o que não era, derrubou todas as casas da região, mesmo sem ter ido lá. Quem ali vivia teve que se mudar: não fazia diferença ser gente, bicho ou planta.

Mas ainda bem, nem tudo muda... As crianças crescidas, mesmo sem saber nem a própria idade, eram muito sabidas! Foram viver em outra margem, agora na cidade. E lá começaram a chamar os outros pra brincar aquelas brincadeiras que, apesar da escolaridade, quase ninguém lá tinha aprendido. Impressionaram-se eles com a ignorância dos ditos sabidos, mas justamente por isso tinham muito que ensinar.

A brincadeira foi ficando séria quando os fracos foram se fortalecendo; os ansiosos se tornando calmos e os medrosos aprendendo a se enraizar... Todo mundo queria entender o poder por trás da simplicidade da bebida colorida que misturava água com flores; de respirar fundo sem calçar sapato; de beber água natural o tempo todo; de comer fechando o olho; de deixar a chuva molhar a cabeça, o corpo, e ainda dançar!

Ainda sem entender o povo já gostava, porque, além de tudo, ninguém gastava nada além de energia pra se perfumar por dentro... Nem precisava de tinta pra pintar o sangue, já vermelho... E, com prazer, descobria a própria pele como uma roupa feita sob medida... Fazendo bobagens, estavam deixando de ser bobos. Crianças crescidas, mas como frutas colhidas antes do tempo, só agora amadurecendo. Descobrindo-se parte da natureza... Que sustenta a si mesma...

Camila Sousa de Almeida


sábado, 15 de dezembro de 2012

Entre


No mistério do sem-fim 
equilibra-se um planeta. 

E, no planeta, um jardim, 
e, no jardim, um canteiro; 
no canteiro uma violeta, 
e, sobre ela, o dia inteiro,

entre o planeta e o sem-fim, 
a asa de uma borboleta


Cecília Meireles


sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

ObservAções

Trabalho numa clínica muito aconchegante, com um ambiente que mistura agradavelmente seres humanos, animais, vegetais e minerais. É interessante observar como algumas pessoas chegam até aqui e apenas aguardam sua vez, ou apenas olham de longe as diferentes partes do ambiente, sem se aproximar. Podemos observar, durante o processo de terapia, as pessoas começarem a explorar o espaço disponível... e, gradativamente (ou não), aprendendo a aproveitar mais as possibilidades oferecidas aqui e agora...
Observei isso acontecer com um cliente, que costumava esperar a hora sentado no sofá, do lado de dentro... Um dia, esteve a admirar o jardim; as plantas nas suas diversas formas e cores, o modo que as mesmas estavam presentes... Ele observava e respirava aquele ambiente à frente.
De repente, ouviu um miado bem distante, aparentemente. Não tinha a percepção de que o som que ouvia se tornava mais próximo ainda. Pensou, no início, que o gato estava longe, na porta de entrada da clínica, quando o animal passou por ele. Achou que o miado vinha da rua, mas para sua surpresa, o gato passou a miar próximo do despreocupado ouvinte. Ao notar que o felino não estava tão distante quanto pensava, alegrou-se! Refletiu como a percepção física humana pode se enganar...
Enquanto o gato “caminhava” lentamente, fechando os olhos, com um miado tranqüilo, ele foi percebendo a ondulação... A coloração dos pêlos alaranjados e, aparentemente, macios... Com traços fortes, grossos, de laranja no corpo e, em sua maioria, pelagem clara... Um degradê de laranja – indo da cor mais clara para mais escura...
O simpático bichinho subia os degraus de uma pequena escada do quintal, onde se encontrava um jardim. Lentamente, com serenidade, expressados pelos miados e olhar um tanto sonolento, como de um bichinho que acabara de acordar... Pisando firme e tranqüilo, como quem valoriza cada patada dada...
Miando, abrindo e fechando os olhos num modo natural de ser e agir, foi de encontro a uma plantinha e decidiu comer suas folhas. Um gato, um animal carnívoro, comendo uma planta... Algo interessante de ver...
A tranquilidade e os miados do felino eram como o ar que respiramos, naturais com a harmonia da natureza... O gatinho, a vegetação e o observador estavam todos inclusos, em equilíbrio com o jardim... Tudo podia ser e estar na beleza daquele universo.
Entretanto, o simpático gato não estava satisfeito com as folhas que comera. Decidiu se alimentar de um vegetal maior, e deste quis arrancar o caule. Tentou uma, duas, três e mais vezes... Pois bem, a planta ficou inteira, mas toda babada. A baba do gato, gosmenta e pegajosa, escorria sobre toda a planta, calma e lentamente, como o modo o dono... Um gato “babão” e faminto por plantas; foi o primeiro que ele pôde ver.
Após isso foi percebendo a aparência do bichano: um leão ou tigre, num porte menor, com algumas similaridades... À primeira vista, ele lembrara um pequeno leão, devido ao focinho e outros detalhes... Um corpo de tigre, com a liderança de um de leão... Mas nada carnívoro o destemido gato. Veio então à sua mente um desenho animado, os Thundercats, que eram gatos com forma humana, personificados. Era visível o quanto o sereno miador tinha “traços” daqueles animais.
Naquele instante um pássaro pousou num galho alguns centímetros acima do gato. Ficou um tempinho olhando o local... Achou que, de tanto olhar, percebeu o miador e voou para um muro alto do jardim, longe de qualquer investida do gato. Que continuou no jardim, agora sem miar...

Camila Sousa de Almeida e J.A.G.


terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Medo



65.700.000 de resultados no Google.

"Um resultado emocional resultante da consciência do perigo ou de ameaça, reais, hipotéticos ou imaginário" segundo o dicionário.

"A vida é maravilhosa se não se tem medo dela" 
Charles Chaplin.


Hoje eu estava assistindo ao Jornal do SBT, na programação noturna do canal. Apesar de ser o meu jornal favorito, por causa de umas grandes sacadas da Rachel Sheherazade, eu senti uma grande aflição depois do anúncio das manchetes principais. "TRAGÉDIA Nº 01" vírgula "TRAGÉDIA Nº 02" vírgula "TRAGÉDIA Nº 03" vírgula "TRAGÉDIA Nº 04".

Cara! O quê que é isso? Quando foi que a desgraça virou o foco? Agora, dentro de tanta coisa boa que acontece por todo este pequeno planeta, os jornalistas acham mais informativo transmitir um assalto surpreendente que uma câmera de segurança gravou por acaso?

Foi assistindo a esse jornal que eu entendi porquê o mundo nunca foi tão perigoso - ele nunca teve tantas televisões. Elas não transmitem somente novelas e desenhos animados, elas transmitem o MEDO. O medo de andar nas ruas cheias de bandidos, o medo de pegar doenças de pandemias inventadas, o medo ser você mesmo.

Charles Chaplin não poderia estar mais certo. E eu mais certo de que ele está certo. Há pouco, minha vida era baseada no "E se...?" Ah, como eu adorava um "se...", ao contrário do Djavan. Diziam ser por causa do meu signo, alegando que librianos são muito ponderados. Mas acho que eu era mesmo um otário. Por uma sequência de fatos que não cabem ser publicados aqui, tudo mudou neste ano.

O começo da mudança foi um promessa linda: não recusar nenhum convite (dependendo da origem, é claro). Alguns amigos se aproveitam dessa promessa e eu não deveria estar anunciando publicamente a existência dela, mas, desde junho/2012, ela vem me trazendo ótimas experiências. Elas expurgaram meus medos de uma forma incrível.

Assaltos agora encaro como uma renovação de pertences. Estar solteiro me garante conhecer pessoas incríveis. Estar sem dinheiro, uma ótima oportunidade de aprender modos alternativos de me divertir e uma forma de conter gastos impulsivos. Não consigo mais ver como essas coisas podem me incomodar novamente. Hoje a consciência do perigo soa muito mais imaginária do que real ou hipotética.

Num clássico filme de terror dos anos 90, A Hora do Pesadelo, quanto mais os mocinhos falavam do vilão Freddy Krueger, mais ele tinha força para aterrorizar os sonhos dos adolescentes. O medo funciona bem assim.






"O perigo existe, faz parte do jogo
Mas não fique triste, que viver é fogo
Veja se resiste, comece de novo
Comece de novo, comece de novo
Ao cruzar a rua você está arriscando
Pode estar na lua, pode estar amando
Passa um caminhão, cruza uma perua
O cara tá na dele, você tá na sua
Você tá na sua, você tá na sua
Mas atravesse a rua sem medo"
(Vinícius de Moraes / Toquinho) 

Iury Vincenzo

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Ser você! Eis a questão.



Há quem pense que a arte de atuar é sinônimo de fingimento: quem não conhece teatro. Porque assistir é pouco para se conhecer de fato algo (ou alguém); só vivenciando podemos dizer, no máximo, que estamos aprendendo. Até porque aprender é um ato que nunca acaba. Inclusive aprender “quem é” alguém, começando por você mesm@.

Em minha parca experiência iniciante tenho percebido o quanto interiorizar-se é essencial para expressar bem o que quer que seja: quanto mais profundo você busca em si tal emoção ou energia, mais fácil você é compreendid@. A capacidade de observar os outros para usar como referencial e a conexão com o público são importantes, mas se se sobressaírem do seu contato consigo mesm@, não funciona. Porque aprendi que em teatro não existe “certo” e “errado”, existe o que funciona ou não funciona, de acordo com um contexto, intenção e perspectiva. “Em teatro”.

Quando você aprende a acessar os materiais que você já tem dentro de si e utilizar qualquer um deles de acordo com a necessidade do momento, fica claro que pra atuar ninguém precisa fingir. Trata-se de ter o controle sobre si. De fazer escolhas, a partir das suas possibilidades, e colocá-las em prática. De aperfeiçoar os seus movimentos externos para que se tornem cada vez mais próximos dos internos – sejam eles emoções, sensações, pensamentos. É integrar-se, entregando-se completamente à proposta do momento. Você não interpreta um gato pensando nas contas a pagar. Você sente que É o gato e, por isso, se torna ele.

Pegando o jeito, à medida que vai ampliando suas possibilidades na prática, através dos exercícios, você vai descobrindo que esse poder de poder ser qualquer coisa lhe faz livre: você pode ser tudo! Aprender teatro, paradoxalmente ou não, é aprender a ser mais você.

Camila Sousa de Almeida

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Não sabia que sabia


Um rei recebeu como obséquio dois filhotes de falcões e os entregou ao mestre da falcoaria para que os treinasse para a próxima temporada de caça, entretenimento dos nobres da época, enquanto esperavam por alguma guerra.

Passados alguns meses, o instrutor comunicou ao rei que uma das aves já estava com toda sua performance de caça pronta para ser testada, mas que a outra ave não tinha se movido do seu galho desde que tinha chegado ao palácio, a tal ponto de que tinham que lhe alcançar a comida, para que não morresse de fome.

O rei, um sujeito muito hábil, mandou chamar curandeiros e até senadores para que verificassem qual o problema com a ave, mas de nada adiantou, ela não saía do lugar...

Pelas janelas dos seus aposentos o monarca podia ver o pássaro imóvel no galho, e mesmo que sua pose fosse autêntica e seu corpo delineado, faltava-lhe a qualidade principal que era voar.

Publicou por fim um anúncio entre seus súditos procurando alguém que ensinasse o pássaro a voar. Na manhã seguinte, viu a ave voando agilmente pelos jardins!

- Traga-me o autor desse milagre! - disse o rei. - Quero recompensá-lo e aprender sua técnica mágica.

Quando o sujeito é apresentado, o rei lhe pergunta:

- Como conseguiste? Tu és mágico, por acaso?

E o homem respondeu:

- Não alteza, apenas observei que se cortasse o galho onde a ave se agarrava, ela iria precisar de algo mais, e isso eram suas asas...

Autor desconhecido


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