Minha foto
Aracaju, Sergipe, Brazil
Sou uma terapeuta ericksoniana; trabalho com Psicoterapia Breve, utilizando, sob medida para cada pessoa, técnicas de Hipnose e Arteterapia. Sou também doula: acompanho gestantes durante o pré-natal, parto e pós-parto. Qualquer dúvida e interesse, entre em contato! Terei o maior prazer em poder ajudar. :)

domingo, 16 de dezembro de 2012

Sabichões e sabichonas


Eles moravam na beira da estrada. Por um lado, pois do outro era mata. Ela não era fechada: todos os dias as crianças entravam adentro para se divertir e colher alimentos. Diziam brincar de “se perfumar por dentro”, “colorir o sangue de vermelho” e “lavar a roupa do avesso”. Pisando na terra, pegando sol, lua e chuva, correndo com bicho e subindo em árvore; era assim a escola deles, pois ninguém ali estudava, mas todo mundo aprendia. A vida era simples demais pra qualquer um querer complicá-la.

Mas as coisas do mundo não são como as coisas da natureza: o humano é capaz até de perder a humanidade. Um grupo desses, que se dizia ser o que não era, derrubou todas as casas da região, mesmo sem ter ido lá. Quem ali vivia teve que se mudar: não fazia diferença ser gente, bicho ou planta.

Mas ainda bem, nem tudo muda... As crianças crescidas, mesmo sem saber nem a própria idade, eram muito sabidas! Foram viver em outra margem, agora na cidade. E lá começaram a chamar os outros pra brincar aquelas brincadeiras que, apesar da escolaridade, quase ninguém lá tinha aprendido. Impressionaram-se eles com a ignorância dos ditos sabidos, mas justamente por isso tinham muito que ensinar.

A brincadeira foi ficando séria quando os fracos foram se fortalecendo; os ansiosos se tornando calmos e os medrosos aprendendo a se enraizar... Todo mundo queria entender o poder por trás da simplicidade da bebida colorida que misturava água com flores; de respirar fundo sem calçar sapato; de beber água natural o tempo todo; de comer fechando o olho; de deixar a chuva molhar a cabeça, o corpo, e ainda dançar!

Ainda sem entender o povo já gostava, porque, além de tudo, ninguém gastava nada além de energia pra se perfumar por dentro... Nem precisava de tinta pra pintar o sangue, já vermelho... E, com prazer, descobria a própria pele como uma roupa feita sob medida... Fazendo bobagens, estavam deixando de ser bobos. Crianças crescidas, mas como frutas colhidas antes do tempo, só agora amadurecendo. Descobrindo-se parte da natureza... Que sustenta a si mesma...

Camila Sousa de Almeida


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts with Thumbnails