- Camila Sousa de Almeida
- Aracaju, Sergipe, Brazil
- Sou uma terapeuta ericksoniana; trabalho com Psicoterapia Breve, utilizando, sob medida para cada pessoa, técnicas de Hipnose e Arteterapia. Sou também doula: acompanho gestantes durante o pré-natal, parto e pós-parto. Qualquer dúvida e interesse, entre em contato! Terei o maior prazer em poder ajudar. :)
domingo, 30 de setembro de 2012
sábado, 29 de setembro de 2012
Uma viagem
Impedidos de entrar em bando,
escaparam pra dentro feito um assalto. Não falaram nada que não fosse por
gestos: “você ali, ele lá, aquele acolá”. Parecia uma banda de música nova
dando suas coordenadas.
Criaram o ambiente propício, sem cotoveladas, e foram pra ponta da varanda, onde se via a lua... dentro, mas fora.
Aplaudiram a si mesmos com entusiasmo e fizeram festa em dia de semana. Não eram mais do que eles mesmos. Estavam sós, naquilo que alguns chamavam de inteiro, mas por serem pacíficos, trocavam brigas por beijos.
Quem eram eles? Os elementos de um cesta sem feira; partes de sua mente. Consciente e inconsciente: uma mente perfeita.
Criaram o ambiente propício, sem cotoveladas, e foram pra ponta da varanda, onde se via a lua... dentro, mas fora.
Aplaudiram a si mesmos com entusiasmo e fizeram festa em dia de semana. Não eram mais do que eles mesmos. Estavam sós, naquilo que alguns chamavam de inteiro, mas por serem pacíficos, trocavam brigas por beijos.
Quem eram eles? Os elementos de um cesta sem feira; partes de sua mente. Consciente e inconsciente: uma mente perfeita.
Camila Sousa de Almeida
sexta-feira, 28 de setembro de 2012
"A Bruxa do Bem"
Ontem assisti pedaços de um filme
de sessão da tarde, desses bem sessão da tarde mesmo, chamado “A Bruxa do Bem”.
De uma forma light ele expôs um assunto muito sério. Vou relatar: um menino de
mais ou menos 12 anos de idade estava sendo ameaçado na escola por outro, “o
valentão”, que roubava seu lanche e, na falta de lanche, queria dinheiro. O
menino estava se submetendo a isso, até que “o valentão” passou a ameaçar sua
irmã também, e aí o menino manifestou pela primeira vez (o que me pareceu,
mesmo sendo a primeira cena do filme que vi) uma reação de defesa. Reagiu, mas
apanhou e caiu.
O tal menino procurou o avô para
aprender boxe com ele, mas o avô sugeriu que ele pedisse ajuda do pai. Não sei
por que, mas ele não queria pedir ajuda do pai para isso, então deixou essa
idéia pra lá. Foi procurar ajuda com a tal “bruxa” que havia chegado há pouco
tempo na cidade, na loja em que vendia “instrumentos de magia”, tais como
pedras, máscaras...
Pediu a ela um antídoto para
transformar alguém em sapo. Compreendendo a situação, ela lhe disse que na
verdade só precisaria de algo que transformasse a pessoa em algo menos
ameaçador... Explicou que seria difícil, e que ia necessitar da ajuda dele: deu-lhe
uma pedra (acho que uma drusa de ametista) e disse para ir até a casa do “valentão”;
depois dar um jeito de apresentar ele ao seu pai e fazê-lo tocar na pedra,
antes de devolver a ela. Ele perguntou, espantado: “mas como eu vou fazer tudo
isso?!” Ela disse que não sabia como, mas que ele precisaria de muita
coragem...
Chegando à casa do “valentão”, o
menino, escondido, viu uma cena: o filho apanhando do pai, que gritava para ele
esvaziar os bolsos. O filho chorava e dizia que não tinha nada. Quando o pai foi
embora, “o valentão” ficou chorando até que viu o menino lhe olhando; e aí
instantaneamente seu olhar passou de vítima indefesa para olhar de agressor...
Foi brigar com o menino, que disse que estava ali porque pensou que podiam brincar
juntos! “Ou você é muito burro ou tem muita coragem”, disse “o valentão”. E
eles foram para a casa do menino brincar.
Em casa, o menino apresentou o
outro ao pai, e depois foi contar a ele a situação do amigo: o pai dele era alcoólatra
e o deixava sozinho, muitas vezes sem comida... A mãe os havia abandonado
quando ele tinha por volta de seis anos. O pai do menino prometeu tentar
ajudar. Assim, os meninos se tornaram amigos de verdade e a pedra foi devolvida
à “bruxa” com a resposta de que não precisava mais daquela ajuda dela...
Enquanto isso, as pessoas da
cidade tentavam de todo jeito expulsar “a bruxa” da cidade, comandados pela “primeira-dama”,
que fez até uma reunião com as mulheres para planejarem uma estratégia para
alcançar tal objetivo. Dois adolescentes acabaram pichando o muro da loja dela,
mas foram pegos pela polícia. E quem diria, eram os filhos do prefeito.
Na delegacia, a “primeira-dama”
chega achando um absurdo tratarem os filhos dela como presos normais, exigindo
regalias. O prefeito chega logo depois, e o policial manda que eles sejam fichados
e presos normalmente, mas “a bruxa” diz que não prestará queixa, pois não quer
prejudicar a vida deles. O pai dos jovens diz que eles limparão tudo que
fizeram e que pagarão todos os prejuízos causados, mas a mãe protesta, achando
tudo um absurdo. O pai se impõe e lhe diz: “todo esse seu ódio e desejo de
vingança transformou nossos filhos em delinqüentes!”.
Pais que foram filhos... filhos
que serão pais... crianças, adolescentes, adultos, idosos: gente como a gente, que aprende.
Camila Sousa de Almeida
quinta-feira, 27 de setembro de 2012
Contador de Histórias
Os Contadores de Histórias da
América Nativa são os guardiães de nossa história e de nossas Sagradas
Tradições. Cabe a eles conservar vivos os nossos antigos conhecimentos para
assegurar a futura expansão que nossos filhos trarão à Terra. Os Contadores de
Histórias viajavam entre os grupos e as Tribos das diversas Nações, levando as
notícias dos acontecimentos que afetavam a todos os Nativos. O Contador de
Histórias costumava contar os fatos que aconteciam em outros acampamentos, ao
redor da fogueira comunitária, depois do jantar. O Contador de Histórias falava
de atos heróicos, da Contagem de Golpes sobre algum inimigo, de um Sonho de
Cura que profetizasse futuros acontecimentos, de Histórias de Sabedoria que
conservavam viva a Tradição ou, ainda, trazia as últimas notícias acerca de
nascimentos e de mortes nas Tribos.
Os Índios das Planícies
costumavam chamar seus Contadores de Histórias de Cabelos Trançados. Esses
Contadores de Histórias usavam uma pequena mecha com tranças e nós, que lhes
caía pelo meio da testa e que os caracterizava como professores e historiadores
da Tribo. Um Cabelo Trançado do sexo masculino não precisava participar das
batalhas, mas deveria observar tudo e recordar-se mais tarde, passo a passo, do
desenrolar da luta. Já um cabelo trançado do sexo feminino era a historiadora que
mantinha viva a tradição feminina e que deveria ensinar as mulheres mais jovens
a sentir orgulho de seus respectivos papéis dentro da Tribo.
Os Contadores de Histórias de
todas as Tribos e Nações constroem uma ponte entre os ensinamentos tradicionais
e o momento presente. As crianças de todas as gerações aprendem as lições
tradicionais que Os Contadores de Histórias ensinam e aplicam estas Histórias
de Sabedoria às suas próprias vidas. Também os pais e avós costumavam contas as
Histórias de Sabedoria para as suas crianças, todas as noites, na hora de
colocá-las debaixo dos mantos de Búfalo para dormir. Mas isto não produzia o
mesmo efeito que a chegada do Contador de Histórias da Nação, que visitava as
Tribos regularmente para contar suas histórias às crianças.
As Histórias de Sabedoria
costumavam ser contadas e recontadas ano após ano para que os Ensinamentos do
Povo permaneçam vivos. Cada história possui diversos significados e
relaciona-se de formas diferentes à vida de cada pessoa. A cada vez que uma
história é repetida, cresce o nível de entendimento, de acordo com o
amadurecimento das pessoas que estão escutando. Os mesmos acontecimentos dentro
de uma história também podem ser repetidos inúmeras vezes, de maneira
diferente, para que cada ouvinte possa perceber de que modo aquela história se
adapta melhor ao seu próprio momento de vida.
O modo de pensar do Povo Vermelho
difere bastante do modo de pensar dos outros povos. Nós não costumamos revelar
qual é a verdadeira mensagem contida em nossas Histórias de Sabedoria.
Preferimos deixar que as pessoas utilizem os seus dons individuais de intuição
e observação para perceber o significado real dessas histórias. Assim, os
ensinamentos da Raça Vermelha são transmitidos de forma que cada um possa
aprender conforme o seu próprio ritmo e seu próprio modo de ser, dando
liberdade a que cada pessoa aplique ou não estes ensinamentos à sua vida.
Os Contadores de Histórias
aprendiam a respeitar a liberdade de pensamento de todos aqueles que iam em
busca de sua Sabedoria. Desta maneira as crianças aprendiam a valorizar a própria
inteligência e sentiam que eram membros respeitados de sua Tribo. O Contador de
Histórias considerava cada criança como uma pessoa igual a ele, e colocava-se
no mesmo nível dela. Se as crianças agissem de forma tola ou começassem a
perturbar o grupo, eram simplesmente ignoradas, e fingia-se que elas nem mesmo
estavam ali presentes. A falta de reconhecimento e de atenção logo punha fim ao
mau comportamento. O Contador de Histórias conseguia passar dias seguidos
fingindo que não via nem ouvia determinada criança. Esta forma de disciplina
era muito mais eficiente do que o castigo corporal porque a criança se sentia
envergonhada diante das outras crianças também.
A memória ocupa um lugar especial
em nossa Tradição Nativa Americana. Como as nossas histórias são transmitidas
oralmente, a lembrança é cultivada como uma arte. Cada uma das ervas, plantas
ou flores empregadas no processo de cura deve ser lembrada para as futuras
gerações. Cada dança, Cerimônia, ritual, iniciação e ensinamento precisa ser
guardado na memória. Todas as Leis e profecias tribais devem ser repassadas
intactas para as futuras gerações. Os Golpes e as perdas precisam ser
recordados para que se possam armar futuras estratégias. É claro que uma única
pessoa não poderia recordar-se sozinha de todas essas coisas, ou tornar-se uma
especialista em todos esses assuntos. É por isso que os diversos Clãs possuíam
historiadores que guardavam a história oral de uma determinada área de
conhecimento em sua memória. Estes fragmentos dos Ensinamentos Tribais eram
repassados para a própria geração e cada pessoa recordava-se de um fragmento
que fazia parte dos aspectos gerais da cultura nativa.
O Contador de Histórias da Tribo
tinha um posto no Conselho de Anciões. Sendo um historiador, o Contador de
Histórias era convocado a contar os fatos passados com total precisão para que
estes acontecimentos ajudassem a solucionar os presentes problemas. Os Cabelos
Trançados ensinavam a forma de viver de maneira equilibrada através das ações
dos personagens das Histórias de Sabedoria. Uma História de Sabedoria, contada
de maneira adequada, podia acabar com as discussões, mudar o curso de uma vida,
insuflar novo ânimo em épocas difíceis ou ainda encorajar os jovens a assumir
novas responsabilidades na vida.
O Contador de Histórias possuía o
dom de contar Histórias de Sabedoria nas quais as pessoas agiam levadas pelo
medo ou pela ignorância, sem, no entanto, referir-se a alguma pessoa em
particular. Assim, os ouvintes se tornavam capazes de chegar às suas próprias
conclusões. Todos os Sábios Nativos preferem ensinar por meio de histórias a apontar
diretamente os defeitos de alguém. Em nossos Ensinamentos sempre nos recordam
que, quando apontamos o dedo acusando alguém, três outros dedos estarão
apontados contra nós. Por outro lado, o Contador de Histórias consegue, com sua
técnica, indicar delicadamente os pontos em que estamos errados, permitindo-nos
corrigir nosso comportamento, sem ter que passarmos vergonha na frente dos
companheiros. Esta é uma forma didática de permitir que cada pessoa decida como
aplicar as histórias ouvidas em sua própria vida.
Trecho retirado do livro “As Cartas do Caminho Sagrado – A Descoberta
do Ser Através dos Ensinamentos dos Índios Norte-Americanos”, de Jamie Sams.
sábado, 22 de setembro de 2012
Reclamando, reclamando... voltando a clamar!
Carina reclamava da vida. Minto, reclamava do que não tinha. Assim, ocupava seu tempo e gastava sua energia. Um dia, na sala de espera de um consultório médico ou psicológico, ela sentou ao lado de uma senhora - pra não dizer velha - que só fazia reclamar.
Alguns chamariam isso de lei da atração, outros de boa ou má sorte, e alguns outros não chamariam de nada. Afinal, a gente só chama o que quer chamar. Ou não?
De qualquer forma, Carina passou horas ouvindo e vendo o que ela não desejava para si: dificuldades para fazer as coisas mais simples, como caminhar, sentar, levantar, enxergar... Pensou que tudo isso a aguardava no futuro ou na velhice, e pela primeira vez percebeu o quanto era bom fazer o que fazia, com tanta facilidade, e todos os dias ainda por cima! Como não havia percebido antes?!
O prazer e a graça escondidos surgiram, como se fosse o sol tentando entrar diariamente pelas janelas da casa que ela só agora abrira. Sentiu-se grata, aproveitando o presente que supostamente amanhã acabaria...
Concluiu que o momento da vida que estava vivendo era o melhor. Mas, mal sabia ela tudo que saberia lá na frente... quando o amanhã se tornasse presente... mal sabia tudo que teria aprendido a apreciar profundamente, e quantos prazeres sentiria, só quando chegasse lá...
Camila Sousa de Almeida
sexta-feira, 21 de setembro de 2012
O homem em contato com sua alma
A idéia de escrever sobre o assunto foi
o ponto de partida para um mergulho interior, já que praticá-lo se faz
pré-requisito para teorizá-lo. Assim como no exemplo de Carl Gustav Jung
(1875-1961), psiquiatra suíço que diferenciou-se da Psicanálise de Freud –
dominante na época – e criou a Psicologia Analítica (ou Jungiana) a partir de
um contato mais profundo consigo mesmo.
E
por que entrar em contato consigo mesmo é entrar em contato com a nossa alma?
Porque, independente de religião ou crenças, utilizamos a palavra alma nos
referindo à essência, àquela parte primordial da qual depende todo o resto da
experiência do ser – humano ou não. É da alma aquilo que é íntimo, profundo,
central, assim como o pedaço de madeira ou metal entre a sola e a palmilha de
um sapato.
Complexa,
nossa alma é um mundinho próprio que determina como percebemos o mundo ao nosso
redor; um verdadeiro infinito
particular, como diria Marisa Monte.
Milton
Erickson (1901 – 1980), outro grande psiquiatra, criador da Hipnose Moderna e
da Psicoterapia Breve Estratégica, ensinou que todos temos dentro de nós tudo o
que precisamos para solucionar nossos problemas – o que nós chamamos de Parte
Sábia. Podemos atingir esses recursos e informações acessando o nosso
inconsciente, assim como Erickson o compreendia: um baú dos tesouros. Tudo o
que vivenciamos, todas as nossas experiências e o que absorvemos delas são
armazenadas e nós nunca chegamos a conhecer todo esse conteúdo. Por isso às
vezes nos surpreendemos com uma idéia genial surgida justamente nos momentos de
descontração, quando não estávamos nos esforçando em raciocinar sobre aquilo.
Diferentemente do que costumamos valorizar no dia-a-dia, o inconsciente
funciona através do simbólico, do artístico e integrativo. E ora se não é
exatamente os meios por quais entramos em contato com a nossa alma! Somos
realmente tocados por aquilo que é capaz de nos reunir no aqui e agora, nos
re-unir com nós mesmos; juntar tudo aquilo que Eu Sou e estar naquele momento por
inteiro: “de corpo e alma”.
Para
entrar em contato com a nossa alma não precisa muito, basta ouvir uma música
que gostamos de olhos fechados; cantar como se a voz fosse um filho a nascer;
“dançar como se ninguém estivesse olhando”; ler um poema e sentí-lo ao ponto de
achar que é seu; apreciar uma obra-de-arte – que é tudo e todos que lhe dilata
as pupilas; olhar nos olhos e ouvir o silêncio... enfim, cada um sabe como
chegar a si, pois cada um é dono do seu próprio caminho. E vários são os
caminhos para se chegar a um mesmo destino...
Além
do desfrute, todos os exemplos acima citados podem levar a pessoa a um estado
alternativo de consciência. Hipnose é antes de tudo um momento de contato
consigo mesmo. Para Erickson toda hipnose é um auto-hipnose; mesmo sendo
conduzido, entregar-se depende completamente de você, e é o seu Eu quem
definirá o rumo a seguir.
Esse
Eu, na Teoria Jungiana, é representado pela palavra Self, que é o centro
da personalidade, a qual se estrutura em diferentes sistemas que inter-relacionam-se,
a saber: o ego, o inconsciente pessoal e seus complexos, e
o inconsciente coletivo e seus arquétipos,
a anima e o animus e a sombra, além
das atitudes de introversão e extroversão e as funções do pensamento,
sentimento, sensação e intuição.
Sem
entrar em detalhes sobre cada um desses sistemas, podemos esclarecer alguns
pontos. O ego pode ser compreendido como o centro da consciência; uma
parte da personalidade total que, influenciada pelo Self, tem a tarefa de
equilibrar as necessidades deste com as exigências do mundo externo. Exigências
essas que dão origem à persona: a máscara assumida por nós que facilita
o convívio social. Tal como uma roupa que vestimos de acordo com o evento, as
máscaras podem variar dependendo do papel esperado de nós. A capacidade de
adaptação é uma virtude, portanto o perigo está quando o indivíduo limita-se ao
ponto de identificar-se com a persona e esquecer Quem Realmente É. A
alma humana não é limitada: é dinâmica e criativa; pulsa, vibra, transforma-se
e provoca transformações.
Para
Jung, a psique – totalidade dos processos psíquicos, conscientes e
inconscientes – (do grego psykhé = alma)
caminha sempre na direção do seu próprio centro, da unicidade, o que é chamado
de individuação. Este processo de conhecer a si mesmo e integrar-se novamente
não ocorre linearmente, e é uma busca constante, como as águas de um rio sempre
a fluir em direção ao oceano.
O
homem tem mantido uma concepção de mundo dividido em polaridades, como se tudo
devesse (e como se pudesse) ser apenas preto ou branco; ser bom ou mau; ser ou
isso ou aquilo. Entretanto, onde há luz há sombra e tudo que existe pressupõe a
antítese. Observe-se no espelho e atente para o fato de que a sua imagem
refletida naturalmente está com os lados trocados... A sombra descrita
por Jung reflete justamente aquilo que a personalidade não expressa
conscientemente, e que mesmo assim existe, para torná-la possível. É o
contrapeso que equilibra a balança do ser.
Similarmente,
dentro de todos nós convivem polaridades que se complementam: a anima e
o animus. O homem, que expressa conscientemente o lado masculino da sua
personalidade, também possui dentro de si o seu lado feminino; e vice-versa.
Permitir-se uma integração de ambos é deixar aflorar a plenitude da sua
sabedoria. Pois, assim como o lado direito e o lado esquerdo do cérebro
absorvem e processam as informações de modos diferentes, o homem e a mulher
funcionam de forma diversa e ambos têm muito a aprender e ensinar um ao outro.
É a união dos diferentes saberes que faz a sabedoria. Então aquela Parte Sábia
talvez não seja uma “parte”, mas sim a união no Todo. Ou não?
Os
hemisférios cerebrais são delimitados e têm seus próprios modos de funcionar,
mas trabalham em conjunto. Fisicamente, há um órgão que faz a ligação entre
eles: o corpo caloso – a possibilidade de união concretamente garantida.
Normalmente há o predomínio de um lado: nos homens do hemisferio esquerdo,
linear, lógico, racional; e nas mulheres do hemisferio direito, intuitivo,
artístico, que reconhece as emoções e processa a integração das partes. O que
falta em um, o outro preenche. Teresa Robles, uma antropóloga e psicóloga
ericksoniana do México, afirma que “a Hipnose é uma linguagem especial onde se
desenvolve um estado de melhor comunicação entre os dois hemisférios
cerebrais”. A genialidade de Milton Erickson estava justamente na sua
capacidade de utilizar ambos os lados em busca de um mesmo objetivo, de forma
que observava atentamente as pessoas (sensação) e intuitivamente produzia um
pensamento adequado para afetá-las (sentimento) no ponto certo. Utilizando
assim equilibradamente todas as funções psicológicas descritas por Jung:
sensação, intuição, pensamento e sentimento.
Além de extrair o máximo dos seus momentos de introspecção para tomar
uma atitude extrovertida bem elaborada e eficaz, sempre que os outros
necessitavam.
É
uma idéia bem difundida a de que utilizamos apenas uma pequena porcentagem da
nossa capacidade cerebral. Provavelmente esta melhor comunicação entre os dois
lados seja meio caminho andado no desenvolvimento do nosso potencial. Jung
acreditava na união dos contrários a partir do que ele chamava de “função
transcendente”: uma capacidade de transcender a tendência destrutiva de
empurrar (ou ser empurrado) para um ou para outro lado, permitindo o confronto
entre os opostos em termos iguais, numa totalidade. Isto se daria através de um
símbolo, que é uma forma complexa nem racional nem irracional, mas as duas
coisas ao mesmo tempo; que aproxima
consciente e inconsciente e permite uma síntese.
De acordo com Jung "um símbolo não traz explicações;
impulsiona para além de si mesmo na direção de um sentido ainda distante,
inapreensível, obscuramente pressentido e que nenhuma palavra de língua falada
poderia exprimir de maneira satisfatória".
A alma do homem e da mulher, tudo aquilo que ele e ela É,
expressa-se plenamente por meio da linguaguem simbólica, devido a sua singular
complexidade. Assim, para fechar com chave de ouro, ofereço um poema nascido do
encontro com a minha alma, no processo que foi escrever este texto:
Toda. É assim que serei
inteira e completa. Sendo eu no eterno vir a se tornar. Totalmente inundada e
preenchida de todos os tempos do mundo, para me tornar certa de nunca ter sido
outra. Por já não ter sido tantas vezes, aceito a mim. Aceito tu e vocês, elas
e os outros. Todos tão calmos, mas surrupiados do Dono. Tendo seus postos
alheios a serem. Para terem, não são, só sonham e tentam acreditar. Tocando-se
tornam-se e voltam ao Ser Central que é universo eterno e infindável de outros,
não são eu. Volto a mim. E agora posso tocar tu e mostrar que és, porque Eu
Sou.
Camila Sousa de Almeida
*Texto escrito em janeiro de 2010. Estava guardado no meu baú... :)
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