Quantas vezes havia sonhado a
respeito disso ela não sabia. Não lembrava quantas vezes desejou ser chamada de
amiga, da boca pra dentro. Ia pra festas, bares, reuniões na calçada; dividia
um cigarro mas não deixava ninguém de fato tocar sua alma. Ela sabia que de companhia
pra o que não prestava a vida não lhe privava, mas era de um amigo que sentia
falta. Farta de tantas vozes, se calava, porque mesmo quando ousava mostrar
alguma coisa sua, era sua máscara. No fundo sentia mais falta era de si
mesma...
Pensava que no mundo deviam
existir outras pessoas como ela, mas a pergunta era: como encontrá-las? Se
existia a chamada lei da atração elas deveriam estar por perto... Tentava ficar
alerta, mas só se frustrava.
Os novos tempos vieram, com outro
conceito de realidade. Agora, podia falar muito – e muito profundo – com alguém
sem nem olhar na cara! Era um novo mundo de possibilidades resgatando sua
esperança: a internet, a globalização computadorizada.
Nem precisou se apressar, as
redes a pescaram. A tal lei ia se concretizando abstratamente em conversas
não-faladas, e as almas foram se conectando sem as peles precisarem ser
tocadas. Alegria era o toque de uma mensagem recebida. Tornou-se sua música
preferida. Quantas confidências desabafadas em siglas...
Foi se descobrindo unida mesmo em
terras separadas. Foi percebendo que poderia ter uma noite muito mais divertida
ficando em casa. Acabou conquistando através de teclas e telas a essência de
uma verdadeira amizade: uma relação baseada na sinceridade.
Entendeu, por fim, que pela tela
podia tê-la pra sempre. E que a tela podia ser (ou não) temporária. Como uma
ponte entre duas margens de terra...
Camila Sousa de Almeida
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