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Sou uma terapeuta ericksoniana; trabalho com Psicoterapia Breve, utilizando, sob medida para cada pessoa, técnicas de Hipnose e Arteterapia. Sou também doula: acompanho gestantes durante o pré-natal, parto e pós-parto. Qualquer dúvida e interesse, entre em contato! Terei o maior prazer em poder ajudar. :)

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

A história do porquê



Numa cidade de pássaros e frutas certa vez foi construída uma praça: local sempre procurado pelos casais, onde as crianças brincam e gritam e onde nascem lindas flores. Um local criado para ser belo e colorido, onde as pessoas iam, vinham e riam. 

Mas as cidades são pedaços de coisas maiores. E, quando as coisas são grandes, nem sempre sabemos o porque delas serem como são... Chegaram os tempos de guerra e tudo ficou diferente. A praça então passou a ser palco de um espetáculo de horror, onde a crueldade humana podia ser diariamente assistida. Por isso, da praça agora se corria. Todo mundo queria ir para casa. Mas não era todo mundo que conseguia...

Vitória era uma mulher simples que gostava muito de flores e árvores. Tinha saído de um lugar pequeno para viver na cidade e ouviu dizer antes de ir que a praça era a melhor parte, pois lembrava a beleza do seu interior. 

Vitória chegou empolgada, mesmo sem conhecer ninguém, mas acabou chegando em época de guerra e deparou-se com ameaças de violência em plena praça. “Isso não tem nada a ver com meu interior”, pensou. Mas ela havia saído de lá justamente porque queria uma experiência nova; conhecer pessoas, contribuir com a cidade, aprender novidades e desenvolver suas velhas habilidades. Resolveu ficar por ali e buscar sobreviver em meio a tudo aquilo que agora fazia parte da sua realidade. 

Descobriu, por causa dessa persistência, que os dias não eram todos iguais... as pessoas também não agiam todas iguais... e que, superando todas as intempéries do ambiente, as flores continuavam nascendo e crescendo na praça... As pequenininhas, as maiores, as claras, as escuras... Em meio às árvores, que também resistiam bravamente aos tiros que levavam... 

Mas isso começou a mudar, pois a praça começou a ficar doente. Murchando, secando, sem dar bons frutos. Então Vitória passou a freqüentar a praça com assiduidade, apesar dos pesares, a praça continuava sendo uma praça: local onde se nasciam as flores da cidade. Vitória se arriscava, e além disso via coisas desagradáveis nesse caminho: corpos ensangüentados, gritos de dor, choros desesperados. Sofrimentos de seres humanos provocados por outros seres desumanizados.

E o que ela ia fazer lá na praça? Obviamente, cuidar da terra, regar as plantas, proteger as árvores. Todo mundo havia se afastado de lá, a natureza estava abandonada. Alguém precisava ter esse cuidado... Certa vez uma pessoa, de dentro de uma janela, que sempre via quando ela passava, perguntou a Vitória por que ela se arriscava e suportava tudo isso por nada. E Vitória disse que, se a pessoa fosse lá com ela, ela mostrava. 

A pessoa não quis ir ver, estava muito amedrontada, mas Vitória ficou com a pergunta em sua mente e ao chegar na praça respondeu sozinha: “Por nada???? Se ela visse com meus olhos, ela veria que as flores que antes murchavam agora estão perfumando meu caminho... que as árvores que haviam secado agora estão cheias de folhas, me doando ar puro e abrandando o calor dos meus dias... que os bichos que haviam perdido bruscamente suas casas agora tiveram de volta um lar, um ninho... e, por isso, ganhei muitos amigos...”

E a cada planta e árvore que floria na terra, fertilizada com carinho por Vitória, a cidade ficava menos cinza. O choro até continuava, mas a vida teve Vitória na praça...

Camila Sousa de Almeida



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