Li na internet uma matéria sobre a “beijação” no carnaval, tratando o assunto de uma forma assustadoramente naturalizante! É inegável que, no Brasil, este é um hábito comum entre os jovens (às vezes também entre os muiiiito jovens e os não tão jovens assim), mas a alta freqüência de um tipo de comportamento não o torna sinônimo de natureza ou saúde, apenas de vulgaridade – ou seja, de um costume popular.
E tudo que se manifesta de forma massiva na população está refletindo os valores que estão formando os indivíduos; estes, por sua vez, formam a sociedade do presente e do futuro. Abordar este assunto sem a devida seriedade contribui para a manutenção dessa normalização da superficialidade, a qual está criando nas pessoas uma atitude interna de desvalorização de si mesmas e, consequentemente, dos outros – cada um com seus corpos, mentes e sentimentos (relativos a um ser humano, e não a um objeto).
Os perigos à saúde física dessa prática carnavalesca, que se extende pelo ano todo, são fáceis de listar; mas as conseqüências que abrangem os aspectos sociais, psicológicos, emocionais e espirituais envolvidos, não podem ser calculadas... entretanto, não chegam nem a ser um risco, pois estes já são pontos automaticamente afetados.
Ninguém quer sair emprestando a sua roupa preferida para um monte de gente, né?! E por que faria isso com a única que tem para “vestir sua alma”?
Camila Sousa de Almeida
Carnaval como título de discurso sobre a superficialidade dos relacionamentos né?
ResponderExcluirTem um livro que, não se você conhece, mas trata muito bem desse assunto a liquefação das relações humanas: Amor Líquido de Zigmunt Bauman. Retrata a superficialidade das relações, a descartabilidade que temos com os ditos objetos e coisas que também acabam sendo deslocadas para as relações humanas. O "ficar", o sexo sem compromisso, as amizades coloridas, os amores virtuais promovidos pela internet, enfim tudo o que está as voltas com nossa atual situação de consumidores capitalistas especulativos, ávidos de usar, abusar e descartar coisas e pessoas. Segundo amigo meu da UFBa, carnaval: a festa da carne, dias de libertação de uma sexualidade oprimida, mas que hoje se encontra escancarada e diria, pervertida e supervalorizada....mas enfim, é carnaval. Boas festas! tudo de bom!
"Quando o indivíduo se mistura à massa, subjuga o eu, seus traços singulares de personalidade e seus valores morais, a fim de fazer parte do todo mais amplo e amorfo, o que libera o lado selvagem da personalidade. (...) Sejam quais forem os indivíduos que compõem um grupo, o fato de haverem sido transformados num grupo, coloca-os na posse de uma espécie de mente coletiva que os fazem sentir, pensar e agir de maneira diferente daquela pela qual cada membro sentiria, pensaria e agiria, caso se encontrasse em estado de isolamento."(Gustave Le Bon). Não só a beijação, comportamento que a mídia tornou intrínseco ao carnaval, com fortes propagandas de usar preservativo (sempre achei estranho, levando a crer que tudo acontece ali mesmo - e o pior é que às vezes acontece num cantinho qualquer), mas também o uso de drogas lícitas e ilícitas, estilo: "não compartilhe seringa" (ou seja, se drogue mas não pegue aids, tudo bem, política de redução de danos. Mas primeiro criam o dano pra depois remendar), "se dirigir não beba,se beber não dirija" (creio ser difícil pra quem já está bêbado ainda posuir o bom senso, raciocinar e dizer: "vou de taxi, amanhã eu volto de ônibus buscar meu carro"). Ah, mas são propagandas com boas intenções. Até pode ser, mas questionemos se estão sendo feitas de maneira mais adequada. Mudanças mesmo poderemos ver se desde a infancia forem vistas nas escolas e nos lares ensinamentos sobre as consequencias físicas, financeiras, mentais e espirituais do uso inadequado dee substçãncias e do uso inadequado do seu próprio corpo. O que certos comportamento podem trazer como consequencias, e sempre há consequencias, ainda que não vistos imediatamente. "O sujeito na multidão se comporta num plano inferior da ética e da personalidade, perdendo sua individualidade e revelando uma “propensão quase psicopática” com a atenuação das funções do superego e a redução do sentimento de culpa e angústia. A mudança comportamental deve-se ao fato de que o grupo dá ao indivíduo uma sensação de poder e distribui o poder e a responsabilidade, transformando o indivíduo num anônimo da massa." (Freud)
ResponderExcluirConcluo dizendo que é perfeitamente possível se divertir, e muito, de maneira consciente. Mesmo em eventos carnavalescos, em pleno show, em plena curtição de boas músicas, com um grupo divertido, e fazendo zuada. Sem se render à irresponsabilidade.
Abraços e bom carnaval!