Marília tinha nascido no meio dos
bichos. Convivia com gato, cachorro, papagaio, periquito. E quanto mais andava
pelo seu quintal infinito, mais encontrava outros amigos: os voadores, os
saltitantes, os nadadores... Todos absolutamente livres. As espécies conviviam
numa harmonia que, para Marília, era tão natural quanto ela.
Quando foi viver na selva de
pedra, estranhou muita coisa: água engarrafada e lacrada, fruta pegada de
prateleira, cachorro vendido em loja, o povo correndo da chuva, e não com
ela... Era tanta coisa diferente que ela nem sabia como chamar.
Já o povo sabia chamar Marília de
muita coisa. Mas quando diziam que ela era um bicho-do-mato, ela sorria
saudosa. Quando riam dos seus pés descalços, ela pensava que devia ser aquilo
uma pessoa chamada de invejosa. Toda aquela malícia dos homens das pedras só a pureza
da mata conseguia matar.
E como uma floresta que se
multiplica pelas sementes que caem na terra, a fértil Marília pegou-se a engravidar.
Gestando em seu ventre uma nova existência cor de verde-esperança, ela
naturalmente deu à luz em meio às águas limpas que ainda restavam naquele
lugar.
Não tardou a tentarem mais uma
vez desmatar seu peito: “seu filho parece um macaco!”. Marília, sábia como as
folhas de uma árvore que transformam o que vem de fora em algo que lhe é útil,
ficou muito alegre com um comentário tão divino! Serena e orgulhosa, ficou
lembrando do quanto admirava aqueles bichos...
Camila Sousa de Almeida
Você tava realmente inspirada e conectada à natureza e às pessoas ao escrever isso. Incrível! Bjao
ResponderExcluirPutz! Um texto excelente! Inspiradíssima! Queria que a pessoa infeliz pudesse lê-lo....rsrs
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