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Sou uma terapeuta ericksoniana; trabalho com Psicoterapia Breve, utilizando, sob medida para cada pessoa, técnicas de Hipnose e Arteterapia. Sou também doula: acompanho gestantes durante o pré-natal, parto e pós-parto. Qualquer dúvida e interesse, entre em contato! Terei o maior prazer em poder ajudar. :)

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Carta de real idade


Oi, você não me conhece, mas queria te contar um pedacinho da minha história. Eu tenho seis anos e meus pais estão se separando. E eu acho engraçado que adulto acha que criança não entende nada. Como não entender que as coisas não estão bem se presencio caras feias, discussões e até agressão física em casa? Agora eu, na minha lucidez dos seis anos de idade, posso afirmar que quem não entendia do que se passava comigo eram eles. Eu os amava mais que tudo, a presença dos dois era extremamente importante para mim, me fazia imensamente feliz. Minha mãe com seu jeito tão carinhoso de ser e meu pai com a sua alegria que me encantava... O meu amor por eles era tão grande... E de repente, por não entenderem nada de mim, nada do que sinto, nada do meu amor por eles, começam a me disputar como se quem fosse o ganhador ficaria com todo o amor que havia em mim. E nesse jogo de disputa só tinha uma coisa que eu não entendia: era que tudo não passava de um jogo, ou seja, muitas peças eram mexidas, muitas táticas eram utilizadas para conseguir ser “o grande vencedor”. Para mim, aquilo tudo era real. Quando um dizia “vá, vá ficar com seu pai, você ama mais ele que eu!” ou então “de quem é o seu amor?” e eu respondia “de papai” e ainda não contente perguntava “todinho, todinho, todinho?”, aquilo me cortava por dentro, porque eu amava tanto aquela mulher que não queria perdê-la também, já que o convívio com meu pai já tinha se tornado esporádico devido à separação dos dois; e também não queria perdê-lo mais ainda.  Quando eu ouvia essa frase ou outra que me fizesse achar que estava deixando a minha mãe – aquela mulher que tanto amava – triste e que, por isso podia perdê-la; ou que deixava meu pai bravo porque queria minha mãe, aquilo me dava desespero. E o pior, o que “os machucava” era o amor que eu sentia pelos dois. Como pode isso? Eu não conseguia lidar com isso, não conseguia arrancar de mim e nem queria também, porque o que sentia pelos dois era grande demais. Eu me senti só, com tudo aquilo dentro de mim, e sem saber o que fazer. O que me restava era chorar, até que aprendi a ceder, a fazer a vontade dos dois; ora de um, ora do outro. Era ser uma quando estava com minha mãe e ser outra quando estava com meu pai. Era me dividir em duas para não perder os dois. Mas uma pessoa partida em duas é uma pessoa morta. Pois era isso mesmo que acontecia comigo, ia morrendo aos pouquinhos sempre que omitia o meu amor por eles, já que, na minha cabecinha, admitir isso os “machucaria” e eu poderia perdê-los. Passei a fazer isso não só com os meus pais, mas com as pessoas de quem gostava e que não queria perder. Fazia-lhes a vontade, sempre procurando agradar para ser a pessoa bacana e tê-las sempre perto de mim. Passaram-se muitos anos até que eu pudesse entender tudo aquilo, entender porque eu agia assim e porque hoje era difícil para mim escolher entre coisas, dar minha opinião sobre um assunto qualquer... Tinha medo, medo que as pessoas se afastassem, assim como tive medo que meus pais me deixassem. Por isso te contei essa história, para que você entenda que a única coisa que uma criança não entende é quando está num jogo; para te mostrar o quanto isso é perigoso e doloroso para ela e para te dizer que, até que ela entenda tudo isso, já se passaram trinta anos...

M.E.N.I.N.A.

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