Numa floresta que (r)existia vivia
uma família que era o resquício de uma cidade extinta. Viviam do seu próprio
trabalho e raramente recebiam visita. Só corajosos viajantes – e não viajantes
com coragem – chegavam ali, onde eles pisavam todos os dias.
Uma tarde receberam um desses,
que junto com ele um filho trazia. O menino que viajava passou o resto do dia a
falar para as crianças dali sobre coisas estranhas, coisas que não existiam,
que pareciam verdadeiras mentiras de tão esquisitas!
Passada a fase da lua, o menino
da floresta levantou cedo com a luz do dia, e foi perguntar à mãe, que muito
sabia da vida: “mãe, o que é livro?”. A mulher sorriu um sorriso de canto de
boca e olhos com brilho, e disse: “livro, meu filho, é uma coisa muito bonita.
É coisa, mas parece gente; fala e faz falar inteligente. É algo que alguém
achou tão bom que quis compartilhar, e que chegou até você pra mostrar que você
é capaz de aprender mais. Pode ser grande ou pequeno, mas sempre te deixa
maior; assim como a semente e a terra, quando ele chega e recebe permissão, entra
e você nunca mais será como antes”. E o filho, alegre com o que ouvira: “mãe,
eu quero isso pra mim! Eu posso plantar?!”.
A mãe disse que livro não era
como espiga de milho que se colhia, mas como a canjica que dele se fazia. Prometeu
então ao filho que o sabor dos livros ele iria conhecer. E que iria gostar
tanto, mas tanto, ao ponto de lamber os dedos pra página virar! Pediu aos
visitantes que avisassem nas cidades do caminho que ali naquela casa da
floresta os livros eram bem-vindos. E a partir de então, os novos visitantes
começaram a chegar, vindos de muitas origens.
Mostrando a natureza e as partes
do próprio corpo, a mãe ensinou ao filho sobre os nomes das formas escritas: uma
lua crescente podia chamar de “C”; um sol redondinho chamar de “O”; uma perna,
se fosse sozinha, chamaria de “I”; e assim, o menino foi aprendendo a aprender
com os livros. E começou a viajar com a ajuda daqueles que viajavam, e seus
filhos...
Um dia o menino da floresta
questionou: “mãe, como se faz livros? Eu posso fazer?”. E a mulher, sabiamente,
respondeu: “filho, um livro é como um filho. Você pode fazer de muitas formas,
mas a melhor delas, a que eu mais gosto, é com amor. Você pode fazer livro com
pedaços de árvores, colocando neles seu coração. Transformada em livro, a
árvore vai passar de mão em mão; e vai fazer mágica: deixar pular fora do seu
peito o coração. Você tem tudo isso aqui, não tem?! Então você pode. E melhor ainda
é saber que podemos continuar a plantar...”.
Camila Sousa de Almeida
Que texto lindo, deu até vontade de fazer um filho, digo, um livro. Enfim, tanto faz, pois no fim das contas dá no mesmo.
ResponderExcluirBjo
Obrigada.
ResponderExcluirOlha que se brincar você já tem um filho feito e ainda não sabe! rsrs
Bjo
Camila sempre presenteando... parece até a plantinha que tinha no consultório, sempre que mexia dela ela me entrgava uma flor! =)
ResponderExcluirMinha querida, você já plantou e nós já estamos colhendo :*
ResponderExcluirTão lindo...
ResponderExcluirE percebemos, então, que tão ou mais importante que o conteúdo, é a forma de ensiná-lo, de mostrá-lo ao mundo...
^^
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