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Aracaju, Sergipe, Brazil
Sou uma terapeuta ericksoniana; trabalho com Psicoterapia Breve, utilizando, sob medida para cada pessoa, técnicas de Hipnose e Arteterapia. Sou também doula: acompanho gestantes durante o pré-natal, parto e pós-parto. Qualquer dúvida e interesse, entre em contato! Terei o maior prazer em poder ajudar. :)

terça-feira, 29 de outubro de 2013

E eles viveram felizes para sempre

E eles viveram felizes para sempre. Seja lá quando isso for. Assim acaba essa história. Porque tudo o que começa acaba. Murilo teve sua primeira visão quando nasceu: vislumbrou sua morte, de infarto, debruçado numa janela. Abriu o berreiro. E nunca se esqueceu dessa visão, estranhamente.

Mais tarde, na infância, os filmes o entediavam: nos créditos iniciais já sabia que o casal viveria feliz para sempre. Os filmes de comédia não tinham mais graça e os de suspense não davam susto. Desistiu de assistir "Lost" no primeiro capítulo.

Tornou-se um sujeito tímido, introvertido. Bastava que fizesse um novo amigo para que antevisse o momento em que eles romperiam ou a morte de um dos dois. Beber era difícil. No primeiro gole, visualizava a ressaca.

Um dia, apaixonou-se à primeira vista. Foi travar uma conversa. Imediatamente a viu horrenda, assinando os papéis do divórcio. E isso aconteceu repetidas vezes: viu uma dando um tiro no peito, outra comprando passagens de ônibus só de ida para Friburgo. Murilo foi, pouco a pouco, se afastando da companhia das pessoas, para não ter que começar nada que tivesse que acabar. E viveu um tempo longo em que nada começou.

Até que a visão de sua morte, tão jovem, começou a assombrá-lo. Podia acontecer a qualquer momento. Murilo se olhou no espelho e viu que ele estava se transformando no homem da sua visão: tinha engordado um pouco. Perdeu cabelo.

Não demorou muito para que ele percebesse que era melhor viver as coisas sabendo do final delas do que não viver nada. E redescobriu o prazer de viver o miolo das coisas. Passou a tentar adivinhar como é que as coisas chegariam a ser o que ele já sabia que elas se tornariam. Percebeu o quão pouco importam o começo e o final: o barato está, pensou ele, em como é que uma coisa vai dar na outra. Fez novos amigos, conheceu mulheres, se apaixonou algumas vezes. E a história poderia acabar aqui, com nosso protagonista aprendendo a viver um dia de cada vez, encarando com tranquilidade a finitude das coisas. Mas não foi bem assim, como sabemos.

Certo dia, numa praça, viu uma mulher linda e resolveu puxar conversa. E disse "Opa", como quem diz "Oi". E parou por aí, espantado. Porque não viu final nenhum. Ficou aflito. "Que é que houve?", disse ela. "Não tem final", disse ele. "O quê?", disse ela. "Nossa história", disse ele. "Não tem final." "Mas precisa ter?", disse ela. "Não, não precisa", disse ele. "Não precisa."

E eles viveram felizes para sempre. Seja lá quando isso for.

Gregorio Duvivier


segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Ponto a ponto


Aprenda a costurar: pra dentro, pra fora, pra dentro, pra fora, pra dentro, pra fora, pra dentro... Os nós começam e terminam.

Camila Sousa de Almeida



domingo, 27 de outubro de 2013

Reflexões de um botão

Era um peixe. Era, de fato, uma vontade de nadar. Mas ele voava no ar, sobre as coisas da terra. Não havia espaço onde ele não pudesse ir, afinal era livre da necessidade de líquidos para fluir. Tudo isso fazia um grande sentido, apesar de esdrúxulo e inigualável no mundo das espécies aquáticas, que era o mundo dos terráqueos. Todo mundo no mundo sabe nadar, e quando não sabe, nada. Nada mesmo. Nenhuma invenção humana superaria tamanha patacoada que a de um peixe que não nadava na água.

Camila Sousa de Almeida

terça-feira, 22 de outubro de 2013

O jardineiro

“O que se encontra no início? O jardim ou o jardineiro? É o jardineiro. Havendo um jardineiro, mais cedo ou mais tarde um jardim aparecerá. Mas havendo um jardim sem jardineiro, mais cedo ou mais tarde ele desaparecerá. O que é um jardineiro? Uma pessoa cujo pensamento está cheio de jardins. O que faz um jardim são os pensamentos do jardineiro. O que faz um povo são os pensamentos daqueles que o compõem”. 

Rubem Alves 


terça-feira, 15 de outubro de 2013

Eis o ser humano





No coração tece o sentir,
Na cabeça luze o pensar,
Nos membros vigora o querer.

Luzir que tece,
Tecer que vigora,
Vigorar que luze:
Eis o ser humano.



Rudolf Steiner

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Silenciando



Um guarda-roupa entreaberto, um par de sapatos no meio do quarto; denunciando a preguiça de quem chegou à noite em casa depois de todo um dia de trabalho. E o silêncio. O silêncio de quem não quer ligar a TV nem ouvir música. O silêncio de quem ouve o som dos carros passando na rua. Aquele silêncio de quem se pergunta: onde eu perdi isso? Na adolescência, na melancolia finda? Uma cama se torna mais macia quando aproveitamos ainda acordados. Quando sinto, é pra mim que tudo isso existe. É que a gente escuta melhor muita coisa no silêncio de uma luminária...


Camila Sousa de Almeida
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