O assunto do momento, pelo menos pra mim e pra uma boa parte de mulheres e homens que costumam acompanhar os movimentos sociais, é a Marcha das Vadias. Eu sei que nem todo mundo ouviu falar ou, se ouviu, não entendeu de cara do que se trata. O julgamento que alguns fazem a partir do termo escolhido para dar nome ao movimento é um exemplo claro de um tipo de atitude contra a qual o mesmo luta pra transformar: o preconceito e a discriminação pela aparência.
Tudo começou em 2011, numa universidade em Toronto, no Canadá, quando um policial disse em uma palestra para as mulheres não usarem roupas de vadias, para evitarem estupros. Não aceitando serem culpabilizadas pela violência sofrida, as mulheres se organizaram para protestar contra o machismo e as diferenças sociais dele derivadas, tais como a utilização do corpo feminino como objeto pela mídia; as diferenças de salário entre homens e mulheres, pelo mesmo trabalho realizado; os estupros, abusos e violências sofridas pelas mulheres no mundo todo, em diversos contextos e culturas; entre tantas outras, já que cada marcha vai acrescentando as peculiaridades locais à medida que vai ganhando o mundo.
Um ponto interessante de tudo isso é que a luta me parece estar ganhando força devido a uma mudança muito importante que aconteceu internamente no grupo: a condenação de umas pelas outras, devido ao uso de determinados tipos de roupas e comportamentos sexuais, que demonstrava a tal da competitividade feminina, foi substituída pela defesa de todas por todas. Pois até mesmo as mulheres acusavam-se umas às outras de serem "vadias"... O machismo internalizado pelas próprias mulheres acabou se tornando seu maior inimigo, na medida em que as separavam... afinal, a união faz a força.
As palavras que usamos ganham o significado que damos, por isso, a violência verbal pode se transformar em libertação: denominar-se "vadia" agora, pode significar ser uma mulher que luta, e não só pela sua liberdade, mas de tod@s, sem distinção! Compreendo que o lema da liberdade e do respeito, assim como qualquer outro, implica na prática pessoal como exemplo. Lutar pela liberdade de tod@s não significa concordar ou compartilhar de suas condições, preferências e escolhas. Para ser livre não basta ser respeitad@; tem que respeitar. E esse é um movimento muito profundo...
Camila Sousa de Almeida
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